Nesta dissertação procurei documentar a trajetória do Grupo de Arte Macuco (GAM) fundado na cidade de Buerarema, Sul da Bahia em 1976 e que teve, até a década de 1990, um papel preponderante no cenário artístico-cultural nesta cidade e na região cacaueira: promoveram as Feiras de Arte de Buerarema, que durante vários anos se constituíram como uma referência para diversos artistas e grupos da cidade e da região apresentarem seus trabalhos; tiveram atuação marcante no teatro regional a partir da montagem e encenação de diversas peças teatrais, dentre elas, merecem destaque Cacau verde ou nem tudo que reluz é ouro, Grupo de Arte Macuco uma Indústria de sonhos, O casamento cumplicado de Catumbira com Sinhá Fulô”, Cemitério dos invisíveis e Deus e o Diabo na terra Brasilis. Revelaram também diversos atores como José Delmo, Ramon Vane, Jackson Costa, Carlos Alberto, Alba Cordélia e Gal Macuco. Num primeiro momento do trabalho tentei situar historicamente num determinado espaço-tempo-memória, o município de Buerarema, erguido a partir da expansão da fronteira agrícola do cacau ao longo da primeira metade do século XX com o nome de Macuco e que se tornou berço de um movimento cultural na década de 1970 do qual emergiria o GAM. Posteriormente analiso o contexto de emergência do grupo, suas influencias, sua polifonia artística e sua circulação no meio cultural da região. Num segundo momento, tendo como base a representação na literatura de romancistas e memorialistas, busco contextualizar as relações, geralmente tensas entre história, memória e criação cultural. A partir de um questionamento de fundo sobre como surgiu e como reverberou ao longo do tempo as representações de uma determinada memória construída nas intermediações e disputas entre as elites cacaueiras no início do século XX; analisamos esses discursos para perceber o que eles tentavam “esconder” e a partir da desconstrução narrativa do seu itinerário percebemos outras memórias que também aparecem, mesmo que em segundo plano, na construção literária, para depois ganharem foça a partir da década de 1970 com os artistas e a historiografia. No terceiro e último momento, analisei as criações culturais do GAM destacando a sua participação nas feiras de arte de Buerarema. Concluímos que tanto o GAM quanto a FAB foram resultados de um momento importante no cenário cultural da cidade nos anos setenta e que ao longo do tempo o grupo foi se sobressaindo na organização e promoção desse evento a ponto de a sua militância cultural e sua memória serem confundidas com a própria tessitura do mesmo. Nesse sentido operamos com o conceito de memória dividida para perceber a dimensão plural da memória e vimos que quando nos referimos a esse conceito não devemos pensar apenas num conflito entre a memória comunitária pura e espontânea e aquela “oficial e ideológica”, na verdade ponderamos que ao lidar com a memória, o pesquisador deve estar atento ao fato de que elas se representam como múltiplas e fragmentadas e internamente divididas, mesmo em se tratando de um grupo ou de uma comunidade, todas, de uma forma de ou de outra, são ideologicamente e culturalmente mediadas. A pesquisa pretende contribuir também com a construção da história sociocultural na região Sul da Bahia a partir da investigação historiográfica do contexto social em que se produziram as criações artísticas desenvolvidas pelo Grupo de Arte Macuco, de como compreendiam e representavam através da linguagem cênica a realidade social daquele momento. Compreende-se aqui que o conjunto dessas criações constituem um registro de memórias socioculturais e ao analisa-las a pesquisa se comprometeu com a problematização e indicação de caminhos para outras possibilidades de entendimento do complexo exercício de disputa da construção da memória coletiva e da história na região.