Esta dissertação visa colaborar com os estudos sobre leitura e transposição didática,
analisando como tem sido a didatização desse objeto de conhecimento em um
currículo que vai nortear as escolas públicas e particulares de todo o país, que é a
Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Assim, com a finalidade de responder às
questões de pesquisa: Como o objeto leitura é apresentado no âmbito da concepção
enunciativo-discursiva da linguagem assumida pela BNCC do Ensino Fundamental
(EF) - Anos Finais? e Que proposta de ensino de leitura literária está presente no
campo artístico-literário da BNCC? O presente estudo objetiva analisar o objeto leitura
na BNCC do EF - Anos Finais, tendo em vista a perspectiva teórica assumida pelo
documento e transposição didática quanto ao critério programabilidade. Para tanto,
nos propusemos a identificar como o objeto leitura é apresentado na perspectiva
teórica subjacente à BNCC do EF - Anos Finais (6º ao 9º ano); descrever a proposta
de ensino de leitura da BNCC para o campo artístico-literário; e inferir o perfil de leitor
que a BNCC do EF pretende formar. A metodologia de investigação utilizada foi de
base qualitativo-interpretativista, pois esta é aberta à interdisciplinaridade (Signorini,
1998). Esta pesquisa é do tipo documental, já que tem como objeto de investigação o
documento (SÁ-SILVA et. al, 2009, p. 5), que é considerado como um instrumento
cultural, produzido socialmente, que, ao ser analisado, irá fornecer dados que podem
contribuir para a compreensão do momento histórico no qual foi produzido (CELLARD,
2012). O corpus é constituído pelas partes da BNCC referentes a Linguagens e Língua
Portuguesa do Ensino Fundamental Anos Finais (6º ao 9º ano) e pelos quadros
objetos de conhecimento e habilidades do eixo Leitura do Campo Artístico-Literário.
Por entender que a Linguística Aplicada possibilita um enfoque interdisciplinar, esta
pesquisa enquadra-se nessa área e terá como fundamentos teóricos concepções de
leitura (BAKHTIN, 1992; CAFIERO, 2005; FUZA, 2010; GARCEZ, 2000; GOUGH,
1972; KLEIMAN, 1989, 1992, 2004; LEFFA, 1996; KATO, 1985, 1987; MARCUSCHI,
2008, 2011; ROJO; 2000, 2002; TERZI, 1995; SMITH, 1997); concepções de leitura
literária (AMARILHA, 2010, AMARILHA E SALDANHA, 2016; AGUIAR, 2007;
BORDINI E AGUIAR, 1998; CANDIDO, 2002; COLOMER, 2007; COMPAGNON,
2001; ISER, 1999; KASPARI et. al, 2016; SILVA, 2005; YUNES, 2010) e estudos sobre
transposição didática (ALBUQUERQUE, 2006; CHEVALLARD, 1991; PETITJEAN,
2008, HALTÉ, 2006; MARANDINO, 2004), especificamente, transposição didática
externa. Os dados indiciam que, na perspectiva teórica assumida pelo documento,
leitura é uma atividade complexa, interativa, social e discursiva. A proposta para o
ensino de leitura literária se dá através da programabilidade de gêneros diversificados
e em complexidade sempre crescente que visam a formação de um leitor fruidor,
analista, crítico e participativo das práticas de leitura de impressos e de gêneros
digitais.