Bacillus anthracis é o agente causador do antraz, doença zoonótica reemergente, septicêmica, hemorrágica e letal que acomete humanos e ruminantes. Os esporos de B. anthracis são resistentes às condições adversas e podem permanecer viáveis no solo por longos períodos de tempo. A infecção animal ocorre, na maioria das vezes, através da alimentação em pastos contaminados, sendo relevante realizar a biovigilância no solo. No entanto, não há um consenso acerca da metodologia para o isolamento de esporos de B. anthracis em solos. Desta forma, este estudo teve como objetivo sistematizar, avaliar e testar um protocolo simples para isolamento e identificação de B. anthracis em amostras de solo. Após um levantamento bibliográfico, algumas abordagens foram adotadas com a finalidade de criar um protocolo de isolamento de B. anthracis em solo. Após organização do método, sua avaliação foi realizada por meio do inóculo de solo esterilizado com quantidades conhecidas de esporos de B. anthracis cepa Sterne. O solo inoculado foi submetido ao processamento proposto e as culturas à contagem das UFC para análise da porcentagem de recuperação do inóculo e limite mínimo de detecção. O protocolo foi então conduzido para seis amostras de solo, três oriundas de locais sem ocorrência de antraz, e três provenientes de um local que teve um caso de antraz em 2016. A identificação das colônias bacterianas recuperadas foi realizada por meio da análise da morfologia colonial e celular, da motilidade, da sensibilidade ao fago gama e à penicilina, da presença de marcadores dos plasmídios de virulência de B. anthracis por PCR, e por espectrometria de massas (Biotyper; MALDI-TOF MS). O protocolo organizado foi baseado no processamento direto de 1g de solo em 100 mL de salina tamponada, tratamento térmico a 70o C por 15 min, e semeadura em sete meios de cultura, sendo um deles devotado para a contagem de microrganismos heterotróficos. A etapa de avaliação em solo estéril resultou em recuperação de cerca de 80% do inóculo inicial, com limite mínimo de 103 esporos/g. A condução do protocolo proposto em solos permitiu isolar 369 cepas com características coloniais compatíveis com B. anthracis. Destas, 52 apresentaram características microscópicas sugestivas da espécie, sendo que 38 eram imóveis, uma foi sensível ao fago gama e à penicilina, e duas apresentaram amplificação do marcador do plasmídio pXO1. Ao MALDI-TOF MS, somente uma estirpe apresentou escore compatível (2,315) com a identificação quanto à espécie, e a espécie neste caso foi B. anthracis. A análise deste conjunto de dados revelou a presença de uma amostra B. anthracis pXO1+ e pXO2-, uma cepa Bacillus sp. pXO1+ e pXO2- (B. anthracis-símile), e 10 cepas Bacillus spp. sensíveis ao fago gama que necessitam de caracterizações adicionais para definir a qual espécie pertencem. O protocolo utilizado neste estudo é de simples execução, possibilitou alta porcentagem de recuperação do inóculo aplicado no solo estéril e limite mínimo de detecção de 103 esporos/g, compatível com biovigilância e, ainda permitiu isolar B. anthracis de solo. No entanto, outros testes ainda são necessários para melhor avaliar a performance do método em solo não esterlizado e também a aplicação de métodos independentes de cultivo na detecção da presença de B. anthracis na amostra de solo.
Palavras-chave: Antraz, Bacillus anthracis, esporos, solo.