A análise de modelos de negócio recorre a narrativas e frameworks. Ambos exploram o caráter instrumental do conceito como ferramenta de apoio à representação da lógica de criação de valor de uma empresa. Um dos frameworks mais conhecidos entre os practitioners é o Business Model Canvas (BMC) de Osterwalder e Pigneur (2011). Porém, esse é um tipo de abordagem estática do modelo de negócio, usada para descrição de sua configuração em um dado ponto no tempo. Entretanto, há outro tipo de perspectiva que leva em consideração as alterações no modelo ao longo do tempo. Na abordagem dinâmica, o foco recai não apenas sobre os componentes que o descrevem, mas em sua evolução. O RCOV (Recursos e Competências, Organização e Valor Proposto) de Demil e Lecocq (2009, 2010), é um dos frameworks que tratam os modelos de negócio como dinâmicos, reconhecendo que, ao longo do tempo, seus componentes podem ser alterados de forma a influenciar o valor capturado pela empresa. Este trabalho optou por não desenvolver um framework alternativo àqueles existentes na literatura, mas testar a aplicação conceitual desenvolvida no metamodelo RCOV para analisar quantitativamente o relacionamento entre os seus componentes principais e a captura de valor. Para tanto, foram desenvolvidas três hipóteses contemplando a relação positiva entre Recursos e Competências, Organização, Valor Proposto e a Margem. Foram selecionadas 224 empresas do ranking Melhores e Maiores da Exame entre o período de 2007 e 2017 com os seguintes indicadores: salários e encargos, capital circulante líquido, número de empregados, exportação, vendas domésticas e EBITDA. Além disto, o tipo de Valor Proposto foi enquadrado nas categorias de Baden-Fuller et al. (2017): transacional, relacional, transacional por plataforma e multidimensional. As relações entre as variáveis ao longo do tempo foram analisadas por meio da regressão de dados em painel, tendo como variável dependente o EBITDA. Os resultados indicam que, para os dados coletados neste trabalho, os indicadores de Recursos e Competências influenciam a captura de valor de maneira negativa; os referentes à Organização a influenciam positivamente; e o componente Valor Proposto foi retirado do modelo por não se estatisticamente significante. Contudo, este estudo contribui para a utilização do conceito de modelo de negócio não apenas como fonte de design, mas como base para relações quantificáveis que sirvam de suporte às narrativas de descrição.