Quais as implicações do transporte público coletivo no cotidiano das pessoas, sobretudo, na sua convivência familiar? Procuraremos discutir ao longo desta dissertação. Para isso, abordaremos a questão do fenômeno urbano na sociedade capitalista, do direito ao transporte público, do tempo e qualidade de vida nas cidades e de aspectos relacionados à convivência familiar. O acesso universal aos equipamentos urbanos remete ao direito à cidade que, por sua vez, resulta de um conjunto de aspectos vinculados à promoção do bem-estar no território e onde o transporte urbano abarca um desses aspectos. Apesar da diversidade e intensidade de estudos que englobam a temática da mobilidade urbana e discussões sobre os diversos tipos de modais de transporte, a associação entre abordagens que tratam sobre mobilidade, tempo e relações familiares, concomitantemente, é lançada enquanto desafio nesta pesquisa. Sendo assim, o objetivo geral é avaliar de que modo e em que extensão as condições de deslocamento por transporte público coletivo interfere na qualidade de vida das pessoas e das famílias que utilizam esse serviço. O objeto empírico corresponde aos usuários/as que utilizam o corredor Norte-Sul do Sistema de Transporte Rápido por Ônibus (BRT), situado na Região Metropolitana do Recife. A observação participante, aplicação de formulários, registros fotográficos e realização de entrevistas semiestruturadas compuseram os procedimentos metodológicos desta pesquisa de abordagem fenomenológica, cuja análise é captar questões subjetivas vivenciadas no transporte público e correlacioná-las, nas dimensões do espaço urbano e na esfera doméstica. A estrutura dos formulários contemplou aspectos existentes no transporte público coletivo e que interferem na qualidade do serviço prestado identificados nos trabalho referenciados. Quanto às entrevistas, elas se integram ao formato dos formulários e foram aplicadas em conjunto aos/as entrevistados/as entre os dias de realização da pesquisa de campo, enquanto os registros fotográficos foram feitos em um momento posterior. Ao analisarmos os relatos dos 52 usuários/as participantes, identificamos que as suas experiências se revelaram como os principais resultados desta investigação exploratória. A falta de tempo para estar com os membros familiares, o acesso restrito aos bens culturais e às atividades de lazer, em decorrência do tempo despendido com o transporte, são apenas algumas das questões levantadas nessas experiências de adaptações da vida privada aos compromissos do mundo externo. Ainda sobre isso, é percebido que o tempo gasto nesse deslocamento traz as marcas de uma mobilidade metropolitana cada vez mais periférica, e que estabelece relações de dependência entre as áreas mais distantes e os centros econômicos de interesse do mercado. Neste contexto, conclui-se que dentre tantos aspectos
que interferem na qualidade de vida dos/das usuários/as que dependem do serviço de transporte público coletivo como acessibilidade, conforto, segurança e conectividade, as horas gastas no transporte público coletivo, em longo prazo, comprometem diretamente a vida humana dos indivíduos e dos seus familiares.