O maior e mais rico sistema de recifes coralinos do Atlântico Sul, o Banco dos Abrolhos,
vêm sofrendo com impactos periódicos por florações de cianobactérias e anomalias térmicas.
Os recifes de coral, em sua grande maioria, tiveram a estrutura de sua comunidade alterada em
épocas recentes, frequentemente envolvendo alternâncias de dominância de corais pétreos de
crescimento lento para invertebrados bênticos de crescimento rápido e fotossintetizantes
efêmeros. A generalidade de modelos de declínio de recifes de coral ainda precisa ser verificada
em recifes de zonas túrbidas. Aqui, documentamos o resultado de interações entre uma espécie
de coral endêmica à costa brasileira, e ameaçada (Mussismilia braziliensis), e os organismos
mais abundantes em contato com a mesma. O estudo foi baseado numa série de longo prazo
(2006-16) de amostragem de sítios costeiros não-protegidos, e protegidos fora da costa, por
meio da amostragem de quadrados fixos. Além disso, foram descritos exemplares de
cianobactérias filamentosas bentônicas oriundos dos recifes de Abrolhos através de caracteres
morfológicos e sequenciamento do marcador 16S rDNA. Também, foram investigados contatos
naturais entre cianobactéria e a construtora de recifes M. braziliensis, e os potenciais efeitos
alelopáticos de cianobactérias sobre esta espécie através de bioensaios em laboratório utilizando
exsudados de isolados, cultivados a partir de coletas de campo, e incubados com Symbiodinium
sp. obtidos de M.braziliensis. O extrato bruto de cianobactéria foi testado em bioensaios
similares. Ainda, foram resumidos os eventos pretéritos de branqueamento no Atlântico
Sudoeste Tropical (do inglês: South-western Atlantic - SWA), e as tendências de
branqueamento de acordo com: taxon, distância da costa e habitat, nos recifes de Abrolhos,
foram exploradas. Os contatos coral-alga predominaram perto da costa, enquanto que os
contatos com cianobactéria e turf eram dominantes fora da costa. Uma tendência geral de
crescimento de corais foi detectada de 2009 em diante nos sítios costeiros, enquanto uma
retração no tecido vivo de corais foi observada fora da costa. Turbidez (+) e cianobactéria (-)
foram os melhores preditores do crescimento de corais. O decréscimo da turbidez e da
abundância de macroalgas nos sítios mais afastados, sugere um efeito positivo direto da
turbidez sobre o crescimento de corais, ou um efeito indireto relacionado com a maior cobertura
de macroalgas foliosas perto da costa, restringindo a abundância de cianobactéria. De acordo
com os nossos resultados, exsudados e o extrato orgânico reduziram significativamente a
contagem de células do simbionte quando comparado ao controle. A inibição do aparato
fotossintético de endossimbiontes in-hospite foi detectada no contato com filamentos no campo,
mas o nosso desenho amostral não permite a separação dos efeitos alelopáticos potenciais de
sombreamento. 16S rDNA identificaram os filamentos morfologicamente similares a Lyngbya
majuscula como Moorea producens, Moorea bouillonii e Okeania erythroflocculosa, a
primeira ocorrência destes táxons para o Atlântico Sul. O branqueamento persistiu ao longo de
dois verões austrais (2016-17) e foi registrado em detalhe em Fevereiro, Maio, Junho e Outubro
de 2016, e Março de 2017. A prevalência de branqueamento foi maior nos recifes rasos
costeiros e fora da costa do que nos recifes mesofóticos mais profundos. Todas as espécies de
coral branquearam, entretanto houveram tendências taxonômicas e relativas ao habitat na
prevalência do branqueamento. Diversas espécies branquearam menos nos locais e habitats
onde sua abundância era menor. Nossos resultados adicionam às evidências recentes de que
recifes profundos fornecem refúgio parcial para algumas espécies de coral e que recifes de
zonas túrbidas podem ser menos suscetíveis a estresse climático devido ao sombreamento, e
aos altos níveis de heterotrofia e adaptações locais. Finalmente, desafiamos a ideia de a alta
cobertura de macroalga estar sempre associada à saúde comprometida de corais, e elucidamos
os mecanismos de supressão de tecido coralíneo por cianobactérias bentônicas em Abrolhos.