Os livros didáticos de Arte, produção recente no cenário nacional, são um profícuo espaço para estudo das representações e das formas de regulação de significados culturais. A abordagem das artes indígenas, foco da presente pesquisa, torna-se obrigatória com a Lei 11.645/2008, o que impulsiona também o campo de pesquisas acadêmicas dedicadas à temática indígena, permitindo contestar algumas representações naturalizadas sobre estas populações. O objetivo desse estudo é analisar como as expressões artísticas dos povos indígenas são apresentadas, construídas e posicionadas em dois livros didáticos de Arte para o ensino médio, quais sejam: Por toda Parte, dos autores Solange Utuari, Daniela Libâneo, Fábio Sardo e Pascoal Ferrati, editado pela FTD, e Arte em Interação, dos autores Hugo Luiz Barbosa Bozzano, Perla Frenda e Tatiane Cristina Gusmão, editado pela IBEP. Os livros foram selecionados, no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático, edital do ano de 2015, para distribuição em escolas públicas. A metodologia consistiu em uma análise cultural, orientada pela perspectiva teórico-metodológica dos Estudos Culturais em Educação, e envolveu o exame de textos e imagens constantes nestas obras didáticas. A análise se desenvolve em torno de dois eixos principais: o da representação e o da regulação. Em termos representacionais, a análise mostrou que se reiteram, nas duas obras, certos discursos multiculturalistas, implicados com a valorização e o reconhecimento da diversidade. Contudo, representações ainda sustentadas em simplificações das artes indígenas podem ser encontradas, assim como uma abordagem descontextualizada, fragmentada e em certa medida genérica das culturas indígenas. De um modo geral, a inclusão das artes indígenas está orientada por uma cronologia de base eurocêntrica, aspecto que reafirma o lugar subordinado e periférico, que historicamente se constitui para os indígenas, em produções escolares. Em relação às formas de regulação, o estudo mostrou que os sentidos de arte e de artes dos povos indígenas são regulados por meio de instâncias, regulamentos, leis e bases nacionais que definem o que deve ser ensinado, sobre arte, para estudantes do ensino médio. Uma regulação dos sentidos também se processa nos textos didáticos, definindo o que se pode dizer, como se deve dizer, quais as formas válidas para nomear, caracterizar e conformar o campo das artes e, dentro dele, o das artes dos povos indígenas.