Este trabalho tem como objetivo identificar e analisar as condições intelectuais, institucionais e pragmáticas que justificassem as práticas de saúde no Sanatório São Julião. O recorte temporal vai de 1941 a 1986, período que compreendeu a inauguração do São Julião como um Hospital Colônia ao ano em que o Governo Federal declarou os
Hospitais Colônia inconstitucionais. A pesquisa se insere no campo da História da Psicologia e utiliza os conceitos da Memória Social, bem como os fundamentos da História Oral e da Análise Documental. Foram utilizadas fontes textuais primárias, disponíveis no Arquivo Municipal de Campo Grande (ARCA), no Arquivo do Hospital
São Julião; e fontes orais, produtos de entrevistas a ex-pacientes e ex-funcionários do Sanatório São Julião. Os primeiros anos de funcionamento do Sanatório foi considerado satisfatório para os padrões da época, apesar da exclusão social, mesmo em âmbito institucional. Aos poucos a assistência médica tornou-se ineficiente, pela falta de recursos humanos e materiais, culminando com a precariedade do local. As análises dos recortes
dos jornais sugerem que a sociedade campo-grandense, movida por certa visão social da Lepra, na mídia impressa, “amparou” os internados no Sanatório São Julião com doações de diversos gêneros, desde alimentos a valores altos, feitos por “generosos” campograndenses. A partir de 1970 a instituição foi sistematicamente reestruturada, porém, na ausência de políticas públicas, os recursos para a manutenção da instituição dependiam de doações, da caridade e filantropia. A partir da mídia impressa, a imagem que se formou da instituição foi associada a ideia de cuidado à saúde, ligada a práticas donativas e benevolentes. Intrinsicamente, deu-se ali, com a ajuda de voluntários, uma nova política de trabalho e cuidado em diversos níveis, que iam além da saúde do corpo, com desenvolvimento social e psíquico.