Objetivo: Descrever o perfil sociodemográfico e de saúde de crianças menores de cinco anos e de mulheres em idade reprodutiva de 14-49 anos de aldeias indígenas Pataxó, Minas Gerais, Brasil.
Metodologia: Estudo epidemiológico de base populacional de natureza transversal, que trabalhou os dados coletados em 2011 entre os Pataxó de Minas Gerais. A avaliação do perfil sociodemográfico e de saúde utilizou questionário estruturado baseado no I Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas (Abrasco/GöteborgUniversity/Funasa). A aferição das medidas antropométricas (peso, estatura/comprimento para mulheres e crianças) e da circunferência da cintura (para mulheres) foi realizada de acordo com os protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). A classificação do estado nutricional baseou-se nos pontos de corte estabelecidos pela OMS. Foram calculadas frequências de variáveis categóricas e médias e medianas das variáveis contínuas. Para a identificação de diferenças entre as médias utilizou o teste t de Student, enquanto as proporções foram comparadas pelo teste do qui-quadrado de Pearson, adotando-se P< 0,05. Modelo de regressão logística múltiplo foi utilizado para a identificação dos fatores sociodemográficos associados ao excesso de peso entre mulheres indígenas. Os dados foram analisados no Programa SPSS, versão 17.0, adotando-se P<0.05 como significância.
Resultados: Foram avaliadas 34 crianças (<5 anos) e 69 mulheres (14-49 anos) residentes em cinco aldeias do povo Pataxó, localizadas nos municípios de Araçuaí, Açucena, Guanhães e Carmésia. Em relação aos menores de cinco anos, a maioria das crianças nasceu no hospital, todas tiveram acompanhamento no pré-natal e 82,4% tiveram seis consultas ou mais. Verificou-se coberturas universais para a maioria das vacinas avaliadas. A prevalência de hospitalização nos últimos 12 meses foi de 23,5%, mas nenhuma internação foi devida a infecções respiratórias e apenas uma criança foi internada com diarreia. Ocorrência de diarreia na última semana foi relatada para 17,6% das crianças e tosse para 35,3%. Aproximadamente metade das crianças havia tomado a megadose de vitamina A nos últimos seis meses. Apenas 8,8% das crianças tinham o registro do acompanhamento do crescimento no último mês anterior a pesquisa. Entre os menores de dois anos, observou-se que todas as crianças iniciaram o aleitamento materno e a duração mediana do aleitamento foi 12 meses. Entre as mulheres, 26,1% eram adolescentes (idade >14 a <20 anos), 40,6% tinham o ensino fundamental concluído e a maioria era casada. Verificou-se que 13% utilizavam medicação para pressão arterial, 5,8% para diabetes mellitus e anemia. Em relação ao número de internações hospitalares, 67,5% das mulheres tiveram uma internação hospitalar na vida e 32,5% tiveram duas ou mais admissões. A maioria já havia engravidado, a idade da primeira gestação em sua maioria foi na adolescência, a maioria engravidou de 2 a 4 vezes. A renda familiar da maioria dos domicílios destas mulheres foi proveniente da venda de artesanato ou outra produção e aproximadamente metade vivia em domicílios que recebiam o benefício social Bolsa Família. A obtenção de alimentos foi em sua maioria de mercados próximos, cesta básica e cultivo ou criação domiciliar/coletiva. Observou-se que fatores independentemente e significantemente associados ao excesso de peso entre as mulheres não grávidas à época da pesquisa foram a idade, aldeia de origem e idade da primeira gravidez.
Conclusão: Os achados sugerem melhorias nas ações de atenção primária para a melhoria do acompanhamento do pré-natal, puericultura, imunização, execução dos programas de suplementação de micronutrientes, crescimento e desenvolvimento infantil, aleitamento materno, a redução e prevenção de fatores de risco do sobrepeso em mulheres indígenas e do estado nutricional da população descrita. O estudo pretende subsidiar discussões a respeito dos programas de saúde indígena, sobretudo, em ações que visem melhorias do estado nutricional de crianças e mulheres indígenas e condições de vida dos indígenas brasileiros.