A relação família e escola tem sido apontada por muitas pesquisas como um dos fatores
favorecedores do desenvolvimento e aprendizagem do aluno do público alvo da educação
especial (PAEE), principalmente na infância. Entretanto, a necessidade de formação e
informação por parte dos profissionais que atuam com essas crianças sobre como atrair e
envolver a família na escola também são destacadas pelos estudos na área, por dificultar a
relação. Assim, este estudo tem como objetivo geral planejar, aplicar e avaliar um curso de
formação sobre relação família e escola para professores de alunos pré-escolares do público
alvo da educação especial. Os objetivos específicos foram: (a) analisar a relação família e
escola, segundo a opinião dos professores, antes e após o curso de formação (b) analisar a
relação família e escola, segundo a opinião dos familiares, antes e após a participação dos
professores no curso de formação; (c) analisar o relacionamento entre familiares e
professores ao longo do curso de formação; e (d) avaliar a validade social e a estrutura do
curso de formação. Participaram do estudo 15 familiares e 15 professoras pré-escolares de
alunos do PAEE de escolas públicas, particulares e especiais. A coleta de dados ocorreu em
três etapas: a primeira, o pré-teste, realizada por meio de aplicação de um questionário às
professoras e aos familiares; a segunda, o curso de formação, realizado nas dependências da
universidade, composto por 10 encontros com duração de duas horas cada, aplicado
somente às professoras; e a terceira etapa, o pós-teste, em que se aplicou novamente o
questionário utilizado no início da pesquisa, a fim de verificar possíveis modificações. Para
realizar a coleta de dados e responder aos objetivos da pesquisa, além do questionário
utilizado para o pré e pós-teste, também foram utilizados diários de campo, os quais as
professoras preenchiam semanalmente, relatando os contatos estabelecidos com os
familiares de seu aluno alvo, e o questionário de avaliação da intervenção, aplicado no
último encontro do curso. Os dados qualitativos passaram por análise de conteúdo e os
dados quantitativos foram analisados por meio de medidas de tendência central e dispersão.
Os resultados do pré e pós-teste das professoras indicaram haver discreto aumento na
frequência e duração dos encontros com os familiares. As mesmas também passaram a ter
mais iniciativa de contato com os familiares, contudo, a frequência com que planejavam
estes encontros diminuiu. A variedade dos meios de comunicação utilizados diminuiu,
prevalecendo contatos pessoais. Houve aumento na avaliação da própria participação, da
participação dos familiares e da relação estabelecida, com exceção da avaliação da postura
dos familiares que não apresentou mudança expressiva. Quanto ao pré e pós-teste dos
familiares, constatou-se aumento na frequência e duração dos encontros com as
professoras, variação nos assuntos tratados e maior iniciativa por parte das professoras para
o contato. As professoras passaram a planejar menos os encontros, enquanto os familiares
passaram a planejar com mais frequência. O tempo é questão presente nos fatores que
dificultam e impedem o estabelecimento de contato, sendo apontado como fator que
poderia ser modificado visando melhorar os encontros. Além disso, ambos os participantes
apontaram fatores relacionados à escola como prejudiciais ou impeditivos do contato, sendo
que, no pós-teste, as famílias indicaram mais questões relacionadas a si. De forma geral, as
avaliações das posturas e da produtividade dos encontros variavam em decorrência de
acontecimentos na relação, contudo, as positivas permaneceram com maior frequência.
XIII
Notou-se que a família possuía uma percepção mais positiva das professoras, do que estas
possuíam dos familiares. Em diversas situações percebeu-se maior satisfação da família
para com a relação família e escola, se comparada às professoras. Em relação ao
acompanhamento da relação das díades por meio dos diários de campo, verificou-se
acentuada individualidade e especificidade nos casos, impedindo generalizações. Não
foram identificadas modificações substanciais nas quantidades, frequência e duração dos
contatos, e os assuntos tratados envolviam as situações pontuais pelas quais as díades
estavam passando. A análise das professoras quanto à postura do familiar e ao contato
estabelecido variava de acordo com o assunto tratado e o familiar/responsável envolvido.
Verificou-se que as avaliações se tornaram mais positivas e favoráveis ao longo do período,
havendo casos específicos em que a avaliação diminuiu devido a acontecimentos na
família. Em relação à validade social e à estrutura do curso, a maior parte das participantes
declarou estar satisfeita, indicando que o curso auxiliou na prática docente e no
relacionamento com as famílias do aluno. Os aspectos negativos do curso foram pontuais e
diversificados, indicando a heterogeneidade do grupo quanto a suas preferências e
necessidades, visando suprir as carências que interferiam em sua prática naquele momento.
Por meio das pontuais modificações identificadas no pós-teste e na relação prática
estabelecida, e pela avaliação realizada pelas professoras, considera-se que o modelo de
curso de formação aplicado constitui uma estratégia interessante e viável no intuito de
formar e informar professores sobre a relação com os familiares de seus alunos.