A atividade docente tem sido objeto de diversas discussões no âmbito da Linguística Aplicada
(LA) no Brasil, que, filiadas aos pressupostos teórico-metodológicos do Interacionismo
Sociodiscursivo (ISD), compreendem a centralidade das práticas linguageiras na análise da
atividade educacional e do agir docente (MEDRADO, 2016, 2014, 2012; FREUDENBERGER,
2015, 2012; VELLOSO-LEITÃO, 2015; PÉREZ, 2015, 2014; DANTAS, 2014; ARAÚJO;
2014, dentre outros). No entanto, diante de uma perspectiva de educação que se pretende
inclusiva, democrática e responsiva às diferentes transformações vivenciadas pelo mundo na
atualidade, o trabalho do professor em contextos inclusivos, que considere as práticas de
linguagem produzidas por esses trabalhadores no/como e sobre a atividade educacional, ainda
carece de reflexão no âmbito da LA no país. Nesse cenário, buscamos investigar os sentidos
que são atribuídos ao trabalho docente por duas professoras de línguas estrangeiras (LE) a partir
da experiência de ensino vivenciada em um Centro de Atendimento Educacional Especializado
para pessoas com deficiência visual (DV), a saber, o Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa
Cunha (ICPAC). Para tanto, analisamos as interpretações que emergiram dos textos das
docentes no que se refere às compreensões do trabalho de ensino, às especificidades desse
trabalho e às implicações da experiência vivenciada no ICPAC para outros contextos de ensino
e aprendizagem de LE. Do ponto de vista metodológico, este estudo se configura como
qualitativo-interpretativista, realizado a partir de duas entrevistas individuais semiestruturadas
conduzidas com uma professora de inglês e uma professora de espanhol. Na análise dos dados,
utilizamos o aporte teórico do ISD, mais notadamente a noção de Figuras de Ação, em um
diálogo transdisciplinar com as Ciências do Trabalho (BULEA, 2016, 2010; BRONCKART,
2012 [1999], 2008, 2007, 2006; MACHADO, 2011, 2009, 2007; CLOT, 2010, 2006;
AMIGUES, 2003; FAÏTA, 2002), bem como literatura no campo da educação inclusiva e seus
documentos regulatórios (BRASIL, 2006a, 2006c, 2008; BEYER, 2013; SKLIAR, 2013, 2009,
2006; DANTAS, 2014), e discussões da Linguística Aplicada sobre os processos formativos de
professores de LE (CELANI,2010, 2009; MEDRADO, 2016, 2014, 2012; FABRÍCIO, 2006;
MOITA LOPES, 2015, 2012, 2006, 2003, 2002). Com base na materialidade linguística, a
análise evidenciou que as professoras mobilizam diferentes compreensões sobre a atividade
educacional vivenciada no ICPAC, organizadas a partir dos seguintes conteúdos temáticos: os
sentimentos que envolviam as professoras no exercício da atividade educacional no ICPAC, as
diversas transformações ocorridas em seu agir, o papel da pesquisa na construção de uma
educação para todos, a observância à diversidade, a importância das instruções fornecidas pelos
alunos com DV no processo educacional, os modos de conceber a inclusão escolar e o
engajamento na tarefa de formar futuros professores de LE inclusivos.