Listeria monocytogenes é um patógeno de origem alimentar que pode causar listeriose, uma doença severa que possui uma alta taxa de letalidade em humanos, especialmente em grupos de risco, que incluem idosos, grávidas e recém-nascidos.A exposição de L. monocytogenes a situações de estresse durante a produção de alimentos e sua persistência no ambiente podem afetar sua capacidade de causar doença, uma vez que, durante estas situações, diversos genes relacionados à virulência podem estar reprimidos, podendo influenciar diretamente no potencial de virulência deste micro-organismo. A virulência atenuada de cepas de L. monocytogenes isoladas de alimentos geralmente está relacionada com a presença de mutações e com a variação na expressão de fatores de virulência, especialmente em relação à proteína InlA, que é o principal fator necessário à invasão celular durante a fase inicial do ciclo da listeriose. Em vista do exposto, este estudo objetivou avaliar a ocorrência de L. monocytogenes em carcaças de bovinos abatidos em matadouros-frigoríficos do sul do Brasil e, a partir dos isolados obtidos, caracterizar a relação clonal e avaliar o potencial de virulência, pela presença dos principais genes de virulência, detecção da proteína InlA na parede celular, capacidade de invasão em células epiteliais e presença de mutações no gene inlA. A ocorrência de L. monocytogenes nas carcaças bovinas foi de 6% (12/200), sendo 7 isolados provenientes do ponto 1 (após a sangria) e 5 isolados do ponto 4 (após a lavagem pré-resfriamento). A análise por PFGE demonstrou que os 12 isolados apresentam relação clonal, indicando uma possível persistência desse microorganismo nos matadouros-frigoríficos avaliados. A caracterização fenotípica e genotípica realizada demonstrou a presença de isolados virulentos e multirresistentes a antimicrobianos, o que é um problema de saúde pública. Os isolados possuem os principais determinantes de virulência e apresentam capacidade de invasão celular, portanto, são capazes de causar listeriose em humanos. No entanto, em alguns isolados não se detectou a proteína InlA ancorada na parede celular, o que indica que apresentam menor virulência. Em alguns desses isolados, a não expressão de InlA na parede celular foi relacionada à presença de códon de parada prematuro (PMSC) no gene inlA, no entanto, outros isolados apresentaram o gene inlA com comprimento total necessário para a invasão da célula hospedeira, sugerindo que outros mecanismos estão envolvidos na sua baixa virulência. Esses dados ressaltam a importância de um controle higiênico-sanitário rígido e sistemático durante as etapas do processo de abate de bovinos para reduzir o risco de contaminação cruzada e diminuir a exposição do consumidor a L. monocytogenes.