Bacteroides fragilis é um bacilo Gram negativo encontrado no trato gastrointestinal de humanos como parte da microbiota. Apesar desse fato, é o anaeróbio estrito mais comumente isolado de infecções endógenas em tecidos extra-intestinais. A expressão de fatores de virulência, como o complexo polissacarídico capsular, contribuem para a prevalência desse microrganismo nesses quadros clínicos. Outra característica dessa bactéria é sua aerotolerância. Dentre os anaeróbios, B. fragilis é um dos microrganismos mais aerotolerantes, podendo sobreviver em ambientes aeróbios por até 72 horas. Uma das consequências da exposição ao oxigênio é a formação de radicais livres que são prejudiciais ao microrganismo. B. fragilis tem uma resposta que controla a expressão de vários genes, como os que codificam as enzimas superóxido dismutase e catalase. Grande parte da expressão desses genes pode ser controlada por reguladores transcricionais da família MarR. Na cepa 638R de B. fragilis foram identificados três homólogos dessa família. Um desses homólogos, o BmoR vem sendo caracterizado e sabe-se que cepas mutantes apresentam menores taxas de formação de abscessos em modelo animal, assim como são mais susceptíveis à morte por macrófagos. Ainda, em testes fenotípicos e moleculares constatou-se que esse regulador está associado ao controle do balanço redox na espécie. Outros dois homólogos, MarRI e MarRII, recentemente foram relacionados à resistência a antimicrobianos. No entanto, muito ainda precisa ser estudado com relação ao mecanismo envolvido no controle da resposta ao estresse oxidativo por esses reguladores em B. fragilis. Portanto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a função de homólogos dos reguladores pertencentes à família MarR em B. fragilis. Para tanto, foram realizadas análises in silico, onde através de alinhamento das sequências de aminoácidos entre os homólogos da família MarR foi possível observar que apesar de pertencerem a mesma família, há pouca similaridade entre os resíduos de aminoácidos, com exceção dos resíduos localizados no domínio wHTH de ligação ao DNA que apresentaram alta similaridade. Também foi possível aferir a filogenia dos mesmos através do uso de softwares, nesta análise viu-se que em termos evolutivos, o regulador BmoR seguiu um curso distante de outros homólogos da mesma família. Comparando ao MarR de E. coli, foi possível predizer a estrutura secundária dos reguladores MarRI e MarRII, onde notou-se que ambos os reguladores apresentam uma estrutura bastante conservada ao MarR de E. coli. Ainda, com base em análises realizadas no banco de dados KEGG, acredita-se que o gene marRI faça parte de um grupamento gênico que possui dois outros genes codificadores uma bomba de efluxo e um transportador de membrana, enquanto marRII pertence a um grupamento com outros dois genes codificadores das proteínas RprX e RprY que juntas formam um sistema de dois componentes. Foi realizada a expressão das proteínas MarRI e MarRII, as quais foram purificadas e pôde-se determinar o tamanho das mesmas que correspondem a 17,8 kDa e 18,25 kDa respectivamente. Esperamos que com esses resultados possamos contribuir para a compreensão de um mecanismo vital para a sobrevivência deste microrganismo que é a resposta ao estresse oxidativo. Palavras-chave: Bacteroides fragilis, regulação da expressão gênica, estresse oxidativo, bactérias anaeróbias