Este trabalho tem como objeto de estudo as construções de posse predicativa em língua russa. A posse predicativa em russo, diferente do que ocorre em português, se relaciona com construções existenciais e é, por isso, constituída com o verbo iest’ (ser). Uma sentença como U meniaiest’ machina, por exemplo, deve ser entendida numa tradução literal como “Junto a mim é carro”, correspondendo em português a “Eu tenho um carro”. No entanto, também se observa o uso de sentenças possessivas com a mesma estrutura do exemplo acima, porém com o verbo iest’ não realizado formalmente, figurando uma construção alternativa e contrastiva em relação à primeira. O presente trabalho se apoia na abordagem da Linguística Cognitiva de maneira geral, e na teoria da Gramática de Construções em particular, na qual se postula que o que caracteriza uma língua fundamentalmente é um inventário de construções, ou seja, um inventário de pareamentos de forma e significado, organizado na forma de uma grande rede. Também se postula que uma diferença na forma de uma construção reflete uma diferença semântica e/ou pragmática. É o que se chama de princípio da não sinonímia das formas gramaticais.O objetivo da pesquisa é, através da análise dos dados coletados doNatsional’niiKorpusRusskogoIazika(Corpus Nacional de Língua Russa), descobrir quais são as diferenças de uso e de significado (semântico e/ou pragmático) das construções [U meniaiest’ SN] e [U meniaSN] em russo. Para isso, o trabalho se divide em duas partes: uma análise estatística, que procurou observar as correlações e diferenças de uso das construções em relação a diversas variáveis formais e semânticas utilizando o programa R; uma análise qualitativa, que procurou descrever e explicar os padrões distribucionais encontrados na primeira análise, bem como as questões semânticas e pragmáticas subjacentes na diferença de uso das construções. Adota-se a hipótese de que as duas construções apresentam diferenças de significado e uso, cada uma delas abrigando subconstruções específicas na rede construcional, e de que parte dessas diferenças, de acordo com cada subconstrução, se refere à perspectiva adotada pelo falante na conceptualização da posse. Na análise quantitativa, as variáveis de animacidade, e da relação de tipo e tokendo objeto da posse se mostraram relevantes estatisticamente. No que toca à análise qualitativa, observou-se uma estreita correlação entre as instanciações cujo objeto é vopros(pergunta) e a construção do tipo [U meniaSN], tanto pela alta frequência de ocorrência, quanto pelas particularidades discursivas e pragmáticas. Essa correlação reflete o status independente da subconstrução [U meniavopros] na rede construcional.