O Parapoxvirus ovis (PPVO) ou vírus da orf (ORFV) é o agente do ectima contagioso (ou orf), uma enfermidade mucocutânea que afeta principalmente ovinos e caprinos. O ORFV pertence à família Poxviridae, subfamília Chordopoxvirinae e gênero Parapoxvirus. Os vírions possuem envelope e o genoma consiste de uma molécula de DNA linear e de fita dupla, com aproximadamente 138 quilobases (kb) e contém pelo menos 131 genes. O ORFV possui várias propriedades biológicas e genômicas que o tornam um atraente candidato a vetor vacinal. Por isso, tem sido proposto como plataforma vacinal para vetorar genes heterólogos de interesse veterinário. Em um primeiro estudo, descreve-se a construção e caracterização de dois recombinantes do ORFV, a partir da cepa parental ORFV IA82, que expressam a glicoproteína G do vírus da raiva (RABV-G) nos loci dos genes ORFV024 ou ORFV121, respectivamente, e a avaliação da sua imunogenicidade em suínos e bovinos. A caracterização in vitro demonstrou que os recombinantes ORFV∆024RABV-G e ORFV∆121RABV-G não apresentaram alterações na capacidade replicativa em cultivo celular, comparando-se ao vírus parental. Foi demonstrado que os recombinantes expressam a RABV-G com eficiência, mesmo após 10 passagens em cultivo celular, demonstrando a estabilidade dessas inserções. A imunização de suínos e bovinos com o ORFV∆024RABV-G e ORFV∆121RABV-G resultou em resposta robusta de anticorpos neutralizantes contra o vírus da raiva (RABV). Os títulos de anticorpos induzidos pelo recombinante ORFV∆121RABV-G em suínos e bovinos foram superiores aos induzidos pelo ORFV∆024RABV-G, indicando uma maior eficiência do recombinante ORFVΔ121 como vetor nessas espécies. Em um segundo estudo, mutantes do ORFV com deleções individuais nos genes ORFV112, ORFV117 ou ORFV127 foram construídos, caracterizados in vitro e inoculados experimentalmente em cordeiros. Quando caracterizados in vitro, os mutantes de deleção replicaram em células de corneto etmoidal ovino (OFTu) com a mesma eficiência do vírus parental, sem alterações na cinética de replicação, tamanho e morfologia de placas virais. A inoculação experimental de cordeiros na junção mucocutânea da comissura oral demonstrou que as deleções individuais dos genes ORFV112, ORFV117 ou ORFV127 não resultaram em alterações evidentes de virulência, pois os mutantes produziram lesões tão severas quanto as induzidas pelo vírus parental. No entanto, a resolução das lesões aparentemente ocorreu de forma mais rápida nos animais inoculados com os vírus mutantes do que naqueles inoculados com o vírus parental. Além disso, os vírus mutantes foram excretados das lesões em títulos inferiores aos do vírus parental. Estes resultados demonstraram que os genes ORFV112, ORFV117 e ORFV127 não são essenciais para a viabilidade do ORFV in vitro ou in vivo e interferem apenas parcialmente na virulência em ovinos. Um terceiro estudo foi conduzido para comparar a magnitude e duração da resposta sorológica induzida em bovinos por quatro vacinas comerciais contra o RABV. Após duas vacinações com intervalo de 30 dias, os animais receberam reforço vacinal um ano após, sendo submetidos a pesquisa e quantificação de anticorpos neutralizantes a diferentes intervalos após a vacinação e reforço. Verificou-se que as quatro vacinas são adequadamente imunogênicas, ou seja, induziram altos títulos de anticorpos neutralizantes nos animais após a primovacinação. Porém, verificou-se um decréscimo acentuado nos níveis de anticorpos antes do reforço, de forma que vários animais já não apresentavam níveis adequados de anticorpos por ocasião do reforço. Assim, recomenda-se que os protocolos de revacinação anual sejam revistos, antecipando-se a data prevista para reforçar a vacinação. Em resumo, os experimentos apresentados na presente tese demonstram que o ORFV representa uma plataforma promissora para vetorar antígenos vacinais em suínos e bovinos e que, além dos genes ORFV024 e ORFV121, os loci ORFV112, ORFV117 e ORFV127 também podem ser utilizados para a inserção de genes heterólogos de interesse.