O boto-cinza (Sotalia guianensis) é um pequeno cetáceo típico de ambientes costeiros, com distribuição quase contínua ao longo da América Central e do Sul. A espécie foi classificada em 2014 como Vulnerável na Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, pela sua ocorrência em áreas que são intensamente exploradas para fins econômicos. Portanto, o monitoramento de suas populações se faz necessário para avaliar como a espécie responde às diversas interferências antrópicas em seu hábitat, e propor medidas mitigatórias que garantam sua conservação. O monitoramento acústico passivo (MAP) consiste em equipamentos de gravação e análise de sons e vem sendo cada vez mais utilizado para o monitoramento de cetáceos. O objetivo desse estudo foi avaliar a influência de variações ambientais sobre a ocorrência de botos-cinza na área do Parque Marinho de Ilhéus, através de um ponto de monitoramento acústico passivo. Para isso foi utilizado um tipo de sistema MAP autônomo (C-POD), que registra e analisa sons na frequência dos cliques de ecolocalização emitidos por odontocetos. Foram efetivamente amostrados 257 dias entre outubro de 2015 e 2016, dos quais 253, incluem pelo menos um minuto de registro acústico de boto-cinza, em um total de 18071 minutos com detecção positiva (dpm). A frequência horária de dpm variou ao longo do nictémero, apresentando um ritmo diário com período de 24 horas (periodograma de chi-quadrado g.l=23, p<0,001, Qp=89). A taxa de detecção foi maior de 19 às 22 h e final da tarde, com queda no início da manhã. A taxa de dpm/dia foi menor em abril (média= 18,8; d.p.= 13,85), e maior em outubro de 2016 (média=120,3; d.p.= 72,79). Não foi observada diferença entre o período de verão (outubro- março) e inverno (abril- setembro), (U= 7969,50, p=0,64). Para avaliar quais variáveis abióticas influenciaram a taxa de ecolocalização, foi feita uma seleção de modelos mais parcimoniosos e com melhor ajuste, com base no critério de Akaike corrigido para pequenas amostras (AICc). O modelo selecionado inclui uma frequência superior de dpm/hora durante o período noturno, lua Cheia, com o tempo passado desde a última maré seca e durante ventos nordeste; e um decréscimo de dpm/hora com o aumento da temperatura da água. Não foi evidenciada uma relação significativa entre a taxa dpm com a chuva nem a velocidade do vento. As variações temporais de detecção de botos-cinza podem estar relacionadas a variabilidade espaço-temporal das presas, que por sua vez respondem diretamente às condições ambientais. O monitoramento acústico passivo de botos-cinza por meio do C-POD evidenciou o ritmo diário da espécie e sua intensa atividade noturna, sendo uma ferramenta útil na pesquisa para conservação desse delfinídeo. Os resultados obtidos constituem ainda, uma informação sobre