JUSTIFICATIVA: Uma das principais complicações relacionadas à nefrostomia percutânea em pacientes que evoluem obstrução ureteral maligna, e uma das mais temerosas entre oncologistas clínicos, é infecção urinária relacionada ao cateter. Para tentar evitá-la, uma das opções é a realização de antibioticoprofilaxia antes do procedimento. Entretanto, há dados insuficientes na literatura sobre qual seria a melhor forma de antibioticoprofilaxia antes das passagens e das trocas subsequentes dos cateteres de nefrostomia nesta população. OBJETIVO: Avaliar a taxa de infecção urinária após a primeira passagem e as trocas desses cateteres e verificar a eficácia de uma antibioticoprofilaxia dirigida antes das trocas. MATERIAIS E MÉTODOS: Este é um estudo observacional, longitudinal, com coleta retrospectiva de dados em prontuários, em que 116 pacientes portadores de neoplasia avançada que evoluíram com obstrução ureteral maligna em tratamento na Fundação Pio XII – Hospital de Câncer de Barretos, foram submetidos à nefrostomia percutânea para tratamento desobstrutivo, totalizando 234 procedimentos. Foi analisado a taxa de infecção do trato urinário relacionada ao cateter após o procedimento e sua relação com a realização de antibioticoprofilaxia na primeira passagem para desobstrução e nas trocas subsequentes de manutenção do cateter de nefrostomia. Também foi verificado a eficácia de um protocolo de antibioticoprofilaxia dirigida para trocas subsequentes, solicitando urocultura previamente ao procedimento para guiar o antibiótico na profilaxia. Foi descrito o microbioma, baseado em resultados de uroculturas, nos dois momentos acima citados, e os principais antibióticos envolvidos na profilaxia estudada. Para analisar os possíveis fatores de risco relacionados aos procedimentos foi utilizado a análise de regressão logística. RESULTADOS: Notou-se que houve uma maior taxa de infecção do trato urinário após os procedimentos de troca do cateter (11,4%) quando comparada com o primeiro procedimento (1,2%), p = 0,01. Após as trocas do cateter de nefrostomia houve uma menor proporção de infecção urinária após a realização da antibioticoprofilaxia dirigida (8,3%) versus 15,0% para antibioticoprofilaxia empírica, porém sem significância estatística (p = 0,502). Na primeira passagem do cateter de nefrostomia não houve crescimento microbiano em 64% das uroculturas coletadas, enquanto nas trocas do cateter esta proporção foi significativamente menor (6,7%), p < 0,001. Quando positivas (36,8% na primeira passagem e 90,8% nas trocas do cateter), o principal agente microbiano presente foi Escherichia coli, tanto antes da primeira passagem (28,6%), quanto antes das trocas do cateter (23,2%), porém com maior frequência de Pseudomonas spp. (17,7%) e Morganella morganii (7,4%) antes das trocas. Para a profilaxia na primeira passagem, os antibióticos mais usados foram ceftriaxona (69,7%), seguido de ciprofloxacina (15,8%). Para as trocas dos cateteres, a ceftriaxona continuou sendo o mais usado (45,0%) para a profilaxia dirigida, seguido também pela ciprofloxacina (30,0%), mas, em 25% das vezes foi realizada a opção pelos aminoglicosídeos gentamicina (13,3%) e amicacina (11,7%). Para profilaxia empírica antes das trocas desses cateteres, o antibiótico mais usado foi a ciprofloxacina (56,5%), seguido da ceftriaxona (30,4%). CONCLUSÕES: Não é recomendado a realização de antibioticoprofilaxia para a desobstrução das vias urinária pela nefrostomia percutânea (primeira passagem do cateter) em pacientes com câncer. Para as trocas desses cateteres, a antibioticoprofilaxia dirigida parece ter o seu valor, mas se esta não for a opção, deve-se levar em consideração uma antibioticoprofilaxia que considere os agentes microbianos mais comumente encontrado na instituição que acompanha estes pacientes.