O trabalho do professor tem características que, frequentemente, o expõe a situações diversas: precárias condições de trabalho, multiplicidade de tarefas, perda de autonomia, falta de diálogo com gestores da escola e familiares de alunos, falta de valorização do trabalho realizado, indisciplina dos alunos, baixos salários e imagem negativa da opinião pública. Esses fatores, quando persistentes, podem levar à Síndrome de Burnout, que é um fenômeno em expansão na atualidade, conhecido como “esgotamento profissional”, “estresse existencial”, “estresse profissional”, entre outros. Esse quadro justifica o presente estudo, que teve como objetivo investigar representações da Síndrome de Burnout por professores do Ensino Fundamental afastados de sala de aula e que permanecem desenvolvendo atividades administrativas nas escolas, em situação de readaptação. A pesquisa baseou-se em trabalhos sobre a Síndrome de Burnout na área educacional e teve como referencial teórico-metodológico a abordagem moscoviciana das Representações Sociais. Quanto aos aspectos metodológicos, a abordagem foi quanti-qualitativa. Participaram, na primeira fase do estudo, 100 professores, de 10 escolas do Rio de Janeiro, que responderam ao Inventário de Burnout de Maslach. Trata-se de um instrumento de medida construído em forma de questionário, em uma perspectiva tridimensional: “esgotamento emocional”, “realização pessoal no trabalho” e “despersonalização”. Os resultados da análise apontaram sinais de Burnout entre 15% a 30% dos docentes, classificados com índice alto, médio e baixo. Em seguida foram realizadas entrevistas semidirigidas com 14 professores readaptados, afastados de sala de aula tanto por fatores físicos quanto emocionais. A análise de conteúdo temática de suas falas baseou-se em dois temas-chave e respectivas categorias: “Readaptação do docente” (“trabalho anterior”, “trabalho atual”, “razões para mudança de atividade”) e “Síndrome de Burnout: aspectos médicos, psicológicos e sociais” (“informações”, “causas”, “prevenção”). Respostas à seguinte questão de “indução de metáforas” foram fundamentais para a análise, reforçando o conteúdo das entrevistas: “Se a síndrome de Burnout pudesse ser outra coisa, o que seria? Pode ser um animal, um vegetal, um mineral, por exemplo. Justifique”. Os resultados expressam um modelo figurativo da representação social de Burnout para o grupo que tem como elemento organizador o “sofrimento físico e emocional” (objetivação), associado a “impotência que paralisa”, “sentimento de abandono”, “abatimento’, “apatia”, “maltrato”, “medo”. Os sujeitos se sentem “atacados” não só na mente, mas no corpo também. Propõe-se, como uma pista para a ancoragem, a busca do enraizamento desse sofrimento na situação de readaptação. Vários reconheceram a síndrome em si mesmos, o que demanda atenção das escolas quanto a enfrentar o mal-estar de profissionais em seu cotidiano, que muitas vezes remete a um problema de saúde. Faz-se necessário, portanto, maior compreensão sobre as circunstâncias em que se encontram essas pessoas no interior do espaço escolar e reflexões sobre o modo como podem ser melhor amparadas.