As identidades culturais das benzedeiras e benzedeiros quilombolas moradora(e)s das comunidades Palmeira dos Negros, Sapé e Tabuleiro dos Negros, localizadas no município de Igreja Nova no estado de Alagoas, são formadas a partir dos contextos das necessidades diárias de quem os procura para os serviços de benzimento e rezas de proteção no enfrentamento das lidas diárias. Como referências sociais de seus grupos participam ativamente da vida comunal prestando ajuda a quem busca seus saberes e fazeres tradicionais. As benzedeiras e os benzedeiros cuidam de males físicos e espirituais intermediando os dois planos, para o quê invocam santos católicos, entidades da umbanda e orixás do candomblé, além de contarem com a proteção solicitada aos seus parentes mortos. Os cosmos religiosos domésticos são formados a partir de concepções autônomas e particulares que formam suas religiosidades sem problemas em misturar as várias religiões em um só ambiente. Os altares domésticos representam este cosmo religioso e peculiar onde as várias representações convivem pacificamente, lado a lado. Os cuidados que dispensam às pessoas que a(o)s procuram, cuidam de doenças ainda não tratadas ou tratadas de formas diferentes pela medicina dogmatizada. Os saberes e fazeres tradicionais das benzedeiras e dos benzedeiros são repassados intergeracionalmente pela oralidade a todas ou todos aquela(e)s que se dispõem a aprender e se tornarem benzedeira ou benzedeiro, mas, não basta somente aprender as rezas, é preciso ter o “dom” da cura. A cultura da benzeção em comunidades quilombolas, como pano de fundo desta pesquisa, incorpora elementos da interculturalidade negra, indígena e européia, em contextos sociais e segundo trajetórias históricas específicas. Na luta por reconhecimento jurídico e autorreconhecimento as benzedeiras e os benzedeiros quilombolas, como referências sociais das suas comunidades, contribuiem para a formação das identidades culturais coletivas do grupo social quilombola. Esta pesquisa se propôs a estudar os processos de formação das identidades culturais das benzedeiras e benzedeiros quilombolas a partir das teorias de autores pós-colonias, decoliniais, de instâncias interparadigmáticas dos estudos culturais e da diáspora, de forma a interpretar as múltiplas inserções de pertencimento cultural marcadas pela dimensão étnica racial como quilombola e as identidades religiosas sincréticas como benzedeiras e benzedeiros. A questão que a pesquisa se propôs a responder é: como se desenvolvem os processos de constituição das identidades culturais das benzedeiras e dos benzedeiros moradoras de comunidades quilombolas selecionadas para o estudo em contextos de processos de certificação e titulação dos seus territórios? A metodologia da pesquisa utilizou entrevistas presenciais orientadas por roteiros etnográficos compostos por temas, sobre à cultura da benzeção em comunidades quilombolas, considerados como variáveis emersas das observações participantes. As entrevistas não-diretivas e geraram anotações diárias, e a elaboração de diários. A redação final do texto da pesquisa em estilo narrativo contém as visões da(o)s participantes, além das minhas, tendo como resultado um texto fluído. As fronteiras produzidas pelas relações de pertencimento a cada grupo identitário das benzedeiras e benzedeiros quilombolas são circunscrições imaginárias, que representam as múltiplas inserções dos indivíduos em círculos de pertença. Estas fronteiras são fluídas e as identidades culturais produções políticas do calor das lutas por reconhecimento jurídico e autorreconhecimento, e estão em constante movimento e construção.