As restingas brasileiras possuem uma cobertura florística heterogênea e diversificada, sendo consideradas de baixa riqueza quando comparadas com outros tipos de vegetação do Brasil. Essa biodiversidade pode indicar um amplo espaço de pesquisa na área de produtos naturais, sendo um rico potencial para compostos biologicamente ativos que possam ser utilizados na indústria farmacêutica. Muitas plantas são tradicionalmente utilizadas pelas comunidades litorâneas, entre elas a Varronia curassavica Jacq, comumente conhecida como erva-baleeira, baleeira, camarinha e maria-milagrosa, para tratamento de contusões e dores musculares. As atividades terapêuticas das pomadas com óleo essencial de V. curassavica são atribuídas ao princípio ativo α-humuleno. Considerando que o teor e a composição química dos óleos essenciais sofrem a influência de fatores genéticos, fisiológicos, edafoclimáticos e de manejo. Esse trabalho teve como objetivos: estudar a flora aromática da restinga; e aprofundar conhecimentos sobre o agrupamento químico entre populações de V. curassavica; e avaliar o teor e a composição química do óleo essencial da espécie em ambiente natural de restinga e em condição de cultivo. Foram determinados os teores e os constituintes químicos de óleos essenciais extraídos de folhas de 14 espécies vegetais da restinga da Praia Vermelha, Penha (SC). Após, 16 populações de V. curassavica em restingas situadas ao longo de aproximadamente 70 km do litoral de Santa Catarina foram analisadas. Durante dois anos, avaliou-se a influência da sazonalidade no teor do óleo essencial de folhas frescas e secas de V. curassavica dessas populações. Ao termino do primeiro ano, foi estudada a composição química do óleo essencial das folhas frescas de V. curassavica das 16 populações coletadas e realizado o agrupamento químico das populações e a análise de componentes principais (ACP) para identificar as correlações lineares existentes entre os compostos analisados com as condições edafoclimáticas. Foi feita a propagação vegetativa e testado no campo dois genótipos mais produtivos em termos de teor de óleo essencial e dois genótipos que mais produziram o princípio ativo α-humuleno. Os resultados indicam que as espécies de restinga apresentam variabilidade química quanto à biossíntese de óleos essenciais e, entre elas, destaca-se a V. curassavica com teor de óleo essencial de folhas frescas de 1,58%. Esse teor depende das condições climáticas, pois foi observado que no verão, o teor variou de 0,37 a 0,98% nas folhas frescas e de 0,61 a 2,23% nas folhas secas, enquanto no inverno, a variação foi de 0,28 a 1,00% para folhas frescas e de 0,34 a 1,33% nas secas. A secagem das amostras promoveu um aumento no teor de óleo essencial em 81,25% das populações no verão e 31,25% das populações no inverno. Foram identificados nos óleos essenciais 41 compostos químicos no verão e 40 no inverno, sendo os mais comuns, encontrados em todas populações e em ambas as estações pesquisadas, α-tujeno, α-pineno, sabineno, α-humuleno, (E)-cariofileno, espatulenol, mirceno, alloaromadendreno, β-sesquifelandreno e α-zingibereno. O teor de α-humuleno variou entre 0,34 a 3,16% no verão e de 0,67 a 6,82% no inverno. A ACP agrupou as 16 populações em três grupos no verão e oito grupos no inverno. Em relação ao cultivo, as folhas do acesso PI2 quando secas apresentam o maior teor de óleo essencial dentre as amostras avaliadas, o mesmo possui o maior teor do princípio ativo αhumuleno, tanto nas amostras de folhas frescas quanto nas secas, atingindo o padrão de qualidade ideal para a indústria farmacêutica.