A bacia do rio Jequitinhonha encontra-se localizada na segunda maior área de drenagem do Brasil, a qual possui uma grande proporção de peixes de água doce endêmicos do país. O principal rio formador da bacia, o Jequitinhonha, abriga a Usina Hidrelétrica Irapé, a qual fragmenta o trecho médio da bacia. Até o momento poucos estudos foram realizados na região acerca da dinâmica de ovos e larvas de peixes nesse ambiente. Com isso, o principal objetivo do estudo foi apresentar um panorama da distribuição espacial e temporal de ovos e da assembleia de larvas no médio rio Jequitinhonha, além de relacioná-lo às características dos ambientes existentes na área de influência da UHE Irapé. As coletas de ictioplâncton foram realizadas a cada três dias entre os meses de outubro de 2014 a março de 2015 em cinco localidades na área de influência da barragem (dois pontos amostrais situados a montante e três a jusante da UHE Irapé). Todas as amostragens foram feitas ao anoitecer (20 h), através de arrastos na subsuperfície por 10 minutos, com uma rede planctônica de formato cilindro-cônico (malha 0,5 mm). O material coletado foi fixado em formalina 4%, processado, quantificado e a identificação das larvas realizada ao menor nível taxonômico possível. No período de estudo foram realizadas 296 amostragens, resultando em 2.915 ovos e 2.684 larvas coletadas. Foram identificados 25 táxons, representados por 21 gêneros, 13 famílias e quatro ordens. A ordem Characiformes representou 74,2% do total de larvas capturadas, seguido da ordem Siluriformes com 25,5%. A maior densidade de ovos e larvas foi capturada no trecho localizado a jusante da barragem, sendo o rio principal responsável pela maior densidade de ovos e o rio tributário pela maior densidade de larvas. A estruturação da assembleia de larvas nos diferentes ambientes amostrados não se diferenciou de forma expressiva quanto a composição de espécies, sendo observado apenas uma maior abundância de algumas espécies em determinados locais, como Leporinus spp., Serrasalmus spp. e Wertemeria maculata, que foram mais abundantes no ambiente localizado no rio Araçuaí. Aparentemente, é possível concluir que as condições modificadas pelo barramento não influenciaram na distribuição da assembleia de larvas de peixes do rio Jequitinhonha, no entanto, foi observada uma diferença expressiva na abundância do ictioplâncton na área de influência da UHE Irapé. Os ambientes localizados a jusante da barragem, principalmente no rio tributário Araçuaí, parecem contribuir de forma importante para a conservação das espécies de peixe da região