Introdução: O Pólipo endometrial é a doença endometrial mais prevalente. Sangramento uterino anormal (SUA) e infertilidade são condições clínicas frequentemente associadas com a presença dessa entidade. O risco de malignização é baixo, mas aumenta em mulheres na pós-menopausa com SUA ou idade superior a 60 anos. O tratamento consiste na exérese através de histeroscopia cirúrgica ambulatorial ou hospitalar. A energia elétrica bipolar é a forma de energia convencionalmente utilizada em ambiente ambulatorial. Como o laser apresenta algumas vantagens sobre a corrente elétrica e o custo das fibras óticas empregadas com o laser diodo é menor, pode-se adicionar uma contribuição ao campo da histeroscopia cirúrgica ambulatorial.
Objetivos: O objetivo deste estudo foi descrever as técnicas de polipectomias histeroscópicas com laser diodo sem anestesia, identificar o perfil clínico- epidemiológico das pacientes portadoras de pólipo endometrial para caracterização da amostra estudada, analisar a viabilidade da polipectomia histeroscópica com laser diodo, assim como, a tolerabilidade das pacientes à técnica empregada, e analisar as vantagens e desvantagens da polipectomia ambulatorial com laser diodo.
Métodos: Trata-se de estudo clínico descritivo analítico de avaliação prospectiva com amostra de conveniência, realizada no período de dezembro de 2011 a maio de 2012, de 31 pacientes que foram submetidas à polipectomia histeroscópica ambulatorial sem anestesia com laser diodo à potência de 4W em modo contínuo por contato, após realização de histeroscopia ambulatorial diagnóstica, sendo que
24 tinham diagnóstico histeroscópico de pólipo endometrial único compreendido entre 1cm e 2cm e 7 foram tratadas no mesmo momento da histeroscopia ambulatorial diagnóstica e apresentavam pólipos compreendidos entre 3cm e 5cm de diâmetro. Todas com boa tolerância à dor, quando da realização da histeroscopia diagnóstica. Foram utilizadas fibras óticas tipo bare com 1003μ e 603μ de diâmetro. Duas técnicas para polipectomia histeroscópica com laser diodo foram descritas. Analisou-se variáveis clínico- epidemiológicas, caracterização dos pólipos, tempo da cirurgia, tipo de fibra ótica empregada, dificuldade técnica para remoção completa do pólipo, complicações imediatas e tardias, quantificação da dor referida pela paciente, alterações do fluxo menstrual após a cirurgia, presença de pólipo residual em histeroscopia diagnóstica ambulatorial controle após 60 dias, e estudo anatomopatológico. Para estudo das variáveis ordinais foi utilizado o teste de Mann-Whitney e coeficiente de correlação de Spearman quando conveniente. Para avaliação entre variáveis nominais, foi utilizado o teste Qui-quadrado ou Exato de Fisher, quando conveniente. Os valores foram expressos em número e porcentagem entre parênteses. Para conclusão de cada teste (bilateral) foi utilizado o nível de significância de 0,05
Resultados: O tempo cirúrgico médio foi de 3 minutos e 52 segundos com desvio padrão de 4 minutos e 16 segundos. Um mioma submucoso foi operado. Os pólipos fúndicos tiveram maior mediana de tempo (340 segundos). Não houve diferença entre o tipo de fibra ótica empregada e o tempo da cirurgia. A exérese dos pólipos foi completa em 30 pacientes. Não foi possível relacionar a exérese incompleta dos pólipos com a localização dos mesmos. A quantificação da dor através de EVA e EVN foram 5,05 e 4,95, respectivamente, e ambas com DP igual a 3 e mediana igual a 5. Duas pacientes apresentaram reflexo vagal discreto. Não houve complicações tardias e das 11 mulheres que ainda menstruavam, 6 reportaram ter tido melhora do fluxo menstrual. Na histeroscopia controle realizada depois de 60 dias, 30 pacientes não apresentavam pólipo residual.
Conclusão: Os pólipos são operados realizando-se secção parcial da base rente ao miométrio. Não há efeitos colaterais ao encostar a fibra acionada na junção endomiometrial. Pólipos maiores que o orifício interno do canal cervical devem ser seccionados. Os pólipos fúndicos, cortados de seu ápice em direção à base. Nos pólipos laterais, seu ápice é parcialmente seccionado, retirado, e depois sua base, removida. Pólipos com 5cm do tipo fibrocístico podem extraídos pela técnica da
laser-redução, que consiste em coagular os cistos de modo contínuo e progressivo para redução de seu tamanho. É viável realizar polipectomia ambulatorial com laser diodo sem anestesia com as técnicas descritas. A cirurgia é praticamente exangue pelo efeito hemostático do laser. Foi constatado também, ser possível praticar miomectomia histeroscópica em mioma submucoso tipo I com 1,5 cm de diâmetro. As fibras de 1003μ são mais rígidas e de manuseio mais prático. Com o laser diodo na potência e modo utilizados, os pólipos fibrocísticos foram mais facilmente coagulados que cortados. O tempo cirúrgico foi maior para pólipos com diâmetros maiores que 20 mm e para pólipos localizados na região fúndica. A localização dos pólipos não parece ser uma limitação para a tecnologia apresentada. É viável realizar polipectomia ambulatorial com laser diodo sem anestesia com as técnicas descritas. A tolerabilidade da cirurgia foi considerada satisfatória pela maioria das pacientes. As complicações imediatas foram pequenas sem gravidades e nenhuma paciente apresentou complicações tardias. O laser diodo tem a vantagem da portabilidade e de utilizar fibras óticas como meio condutor e, sendo estas, de custo unitário reduzido. O laser tem maior precisão sobre o ponto de ação tecidual, menor propagação a tecidos adjacentes, maior efeito hemostático, efeito antisséptico, menor atividade anti-inflamatória, menor dor pós operatória. A desvantagem inclui necessidade de técnico especializado em lidar com a unidade geradora e uso de equipamentos de proteção. Entretanto, mais estudos necessitam ser realizados para avaliar a viabilidade técnica em relação a localização dos pólipos e concluir a real vantagem do laser sobre a corrente elétrica bipolar, através de estudos comparativos prospectivos e randomizados.