Essa pesquisa, assim como os postulados do funcionalismo linguístico, verifica a
língua em sua função de serviço à comunicação, observando as motivações que
exercem influências sobre as estruturas linguísticas. Nesse campo de observação,
investigamos o fenômeno da modalização, numa trajetória que parte da
consideração deste fenômeno como uma categoria semântico-pragmática
relacionada à forma de envolvimento do enunciador com o que é dito, ou com os
estados de coisas descritos (LYONS, 1977; NARROG, 2012; PALMER, 1986,
2001), até a concepção, do ponto de vista funcional, de que trata-se de uma
“gramaticalização de atitudes e opiniões dos falantes” (OLIVEIRA, 2003, p. 245).
Investigamos a modalidade na escrita de artigos científicos publicados em anais
de eventos acadêmicos, traçando um percurso dos mecanismos linguísticos que
expressam a modalização no gênero em relevo, objetivando verificar se eles
constituem estratégias discursivas distintas de argumentação, à luz dos
pressupostos funcionalistas. O corpus é constituído com amostras de dez artigos
da áreas de pedagogia e dez de engenharia. Por acreditarmos que este é vinculado
ao discurso acadêmico, nossa pesquisa também investiga mecanismos de
persuasão conferidos pelo recurso das modalidades, partindo da hipótese de que
estas (e os modalizadores que as expressam) têm profícuo uso argumentativo na
construção do gênero artigo científico, contribuindo para o convencimento e
persuasão do leitor do texto quanto às ideias expostas. O marco teórico que nos
impulsionou a realizar reflexões ancora-se nos estudos de Givón (1979, 1983,
1984), Croft (1990, 2001), Hopper e Traugott (1991), Neves (1994, 2004, 2011,
2013), Gonçalves (2007), entre outros. Identificamos que algumas estruturas se
especializam em alguns casos de modalidade a despeito de continuarem
exercendo suas funções primárias. Atestamos, com base no que os dados revelam,
que há regularidade de uso da modalidade epistêmica. Ao propor sua análise, na
parte do desenvolvimento da superestrutura do artigo científico, a intenção do
autor é comprovar a veracidade de sua pesquisa, e assim reveste-se de autoridade.
Para tanto, utiliza da certeza em grande porcentagem, e ao mesmo tempo, em
uma atitude estratégica, deixa transparecer a dúvida, por meio dos advérbios
modalizadores e das modalidades epistêmicas de certeza combinadas às aléticas
de possibilidade, a fim de ganhar a adesão do leitor em relação àquilo que diz.