Contexto: Introduzido na prática cirúrgica há mais de um século, o enxerto autógeno de gordura, tem se mostrado alternativa na reconstrução das sequelas causadas pelo tratamento de inúmeras afecções do organismo.
Todavia, ainda persistem controvérsias em relação à técnica empregada na obtenção, no preparo e na enxertia da gordura, bem como nos aspectos pressóricos do leito receptor como limitantes na integração do enxerto de
gordura. Recentemente autores propuseram estudos para esclarecer os mecanismos de integração dos enxertos de gordura e utilizaram métodos para a avaliação da viabilidade dos adipócitos. Entre os métodos mais importantes,
se destaca a imuno-histoquímica (IHQ) para a detecção da expressão de Perilipina. Até o presente momento não há relatos de estudos experimentais em modelos animais de maior porte que avaliem, de maneira objetiva, fatores
relacionados à integração dos enxertos autógenos de gordura. Objetivo: Este estudo controlado e prospectivo tem como objetivos utilizar um modelo experimental animal de médio porte para comparar a viabilidade de enxertos
autógenos de gordura obtidos por duas técnicas distintas (lipoaspiração com cânulas e ressecção de gordura em bloco com lâmina circular tipo “punch”), com instrumentos de diferentes diâmetros (3 e 5 mm), enxertados em áreas
receptoras com diferentes regimes pressóricos tissulares (fisiológico e aumentado). Metodologia: Realizamos procedimentos cirúrgicos em animais da raça Minipig divididos em 2 etapas. A primeira etapa consistiu na coleta de gordura por técnicas distintas, com instrumentos de diâmetros diferentes, seguidas de preparo e enxertia da gordura em 2 regimes pressóricos. Após 28 dias realizava-se a segunda etapa com a biópsia da musculatura previamente enxertada, identificação do material e posterior envio para análise histológica. Utilizamos as técnicas de imuno-histoquímica para a quantificação da expressão de Perilipina, TNF-b e CD31 para a detecção de eventos celulares específicos: viabilidade de adipócitos, necrose tecidual e neoangiogênese, respectivamente. A coloração de Hematoxilina & Eosina foi utilizada com o objetivo de identificar as áreas de adipócitos íntegros e a presença de necrose gordurosa, fibrose, inflamação e cistos oleosos. Resultados: Evidenciamos que os enxertros de gordura em bloco, coletados com punch dermatológico apresentaram menor incidência de necrose e reações inflamatórias, portanto, maior integração quando comparados aos enxertos de gordura em grumos coletados com cânulas de lipoaspiração. Os diâmetros de 3 e 5 mm dos instrumentos utilizados na coleta de gordura, bem como os regimes pressóricos do leito receptor, não apresentaram influência na integração do enxerto de
gordura. Conclusões: Nosso estudo demonstrou um novo modelo experimental em animal de médio porte que pudesse reproduzir com fidelidade os métodos de coleta e enxertia de gordura como são realizados em seres humanos. Permitiu comparar a viabilidade dos enxertos autógenos de gordura nas diferentes técnicas propostas. A influência da pressão intersticial deverá ser melhor estudada, com métodos mais efetivos de aumento da pressão tissular e aferição da mesma, de maneira precisa e contínua, para que dados mais fidedignos sejam coletados, no intuito de elucidar os mecanismos envolvidos na integração do enxerto de gordura.