As bases neurais do processamento da emoção facial na infância são amplamente
desconhecidas. Os fatores ambientais que podem afetar o processamento facial e o
reconhecimento emocional ao longo do curso de desenvolvimento também são pouco
compreendidos. No entanto, acredita-se que as experiências iniciais, particularmente
envolvendo exposição repetida a faces emocionais dos cuidadores, influenciem esse curso. O
objetivo deste estudo foi investigar os correlatos neurais do processamento de faces
emocionais em lactentes usando a espectroscopia funcional no infravermelho próximo
(fNIRS), e examinar a possível influência das experiências emocionais iniciais dos lactentes,
indiretamente medida pela investigação de sintomas de ansiedade materna. Foram avaliadas
29 crianças de 5 meses de idade e suas mães, recrutadas de uma amostra da comunidade de
Boston, EUA. A ansiedade materna foi avaliada usando o componente traço do Inventário de
Ansiedade Traço-Estado (STAI-T). Os lactentes observaram imagens visuais estáticas de
faces femininas retratando expressões de alegria e medo, enquanto as respostas
hemodinâmicas corticais foram medidas usando fNIRS. As respostas de oxihemoglobina
(oxiHb) e deoxihemoglobina (deoxiHb) nas áreas frontais, parietais e temporais foram
comparadas entre as faces emocionais, e entre filhos de mães com níveis altos e baixos de
sintomas de ansiedade. Os resultados demonstraram efeito principal significativo da emoção
(p=0,022), evidenciado pelo aumento na concentração de oxiHb para faces de alegria em
comparação a faces de medo. Ademais, observou-se efeito principal significativo da região
(p=0,013), induzido por maior concentração de oxiHb nas regiões corticais temporais em
relação às regiões corticais frontais (p=0,031). Além disso, houve uma interação significativa
entre emoção, hemisfério e ansiedade (p=0,037). As análises revelaram que filhos de mães
com alta ansiedade demonstraram uma resposta hemodinâmica significativamente elevada no
hemisfério esquerdo para faces de alegria, em comparação com faces de medo no hemisfério
direito (p=0,040) e esquerdo (p=0,033). Os resultados indicam que lactentes de 5 meses
discriminaram faces de alegria em comparação com faces de medo, evidenciado pela maior
ativação para a primeira. A maior ativação nas regiões temporais em relação às áreas frontais
foi discutida em relação à ontogênese do processamento facial e às redes neurais de
reconhecimento emocional. A resposta mais acentuada, comparando faces de alegria e medo
observada nos filhos de mães com alta ansiedade, pode estar relacionada a alterações no
ambiente emocional dessas crianças em comparação com os filhos de mães com baixa
ansiedade. Assim, os níveis de ansiedade materna parecem moderar as respostas cerebrais
hemodinâmicas das crianças às faces emocionais.