Estudos pré-clínicos e clínicos têm demonstrado que algumas condições
sistêmicas como o Diabetes mellitus podem alterar o processo de reparo ósseo. Na
cavidade bucal, o diabetes pode estar associado à deficiência na osseointegração e
pior prognóstico no tratamento com implantes dentais. Assim, modificações na
superfície dos implantes que favoreçam a reparação do tecido ósseo poderiam ajudar
a compensar as influências deletérias relacionadas ao diabetes. Este estudo tem por
objetivo avaliar, em animais diabéticos, a influência de uma superfície modificada por
fluoretos na osseointegração. A amostra consistiu de 180 ratos (90 para teste
biomecânico e 90 para histometria) aleatoriamente divididos em três grupos de 60
animais: grupo controle (Grupo C), composto por ratos saudáveis; grupo Diabetes
descompensado, composto por animais em que foi realizada indução de Diabetes
mellitus (Grupo D); e grupo Diabetes Controlado (Grupo DC) em que o diabetes
induzido experimentalmente foi controlado com administração de insulina. O diabetes
foi induzido em ratos por injeção de estreptozotocina. Após 4 semanas da indução,
cada animal recebeu 2 implantes nas metáfises tibiais proximais, sendo 1 de superfície
maquinada (M) e o outro de superfície tratada com fluoretos (F). Os animais foram
sacrificados 2, 4 e 6 semanas após a instalação dos implantes. A resistência
biomecânica foi avaliada ex-vivo por meio do torque de remoção, e a qualidade do
tecido ósseo formado ao redor dos implantes por meio de cortes histológicos não
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descalcificados, aonde mediu-se a superfície de contato osso/implante (BIC) e a
fração de área de tecido ósseo entre as roscas do implante (BAFO). Os dados
numéricos (peso, glicemia, torque de remoção, BIC e BAFO) foram avaliados
estatisticamente por meio do teste de normalidade de Shapiro-Wilk e pelos testes
paramétricos ANOVA complementado pelo teste de Tukey aplicados com 5%
(p<0.05) de nível de significância. Em relação à análise biomecânica, para os
implantes maquinados o grupo D obteve menores valores de torque (p<0,05) que o
grupo C, mas similares ao grupo DC em 4 e 6 semanas. Para os implantes F, o grupo
D apresentou menores valores (p<0,05) quando comparado aos outros 2 grupos.
Quando as superfícies F e M foram comparadas no mesmo período de avaliação, F
sempre apresentou valores maiores que M (p<0.0001), para todos os grupos. Não
houve diferença estatisticamente significante entre os grupos quando o BIC foi
analisado, independente da superfície utilizada. Quando o BAFO foi analisado,
observou-se diferença estatística (p<0.05) em 4 semanas para os grupos C e DC em
comparação ao grupo D, apenas para superfície M. Na análise intra-grupos, a
superfície F apresentou tendência a maiores valores de BAFO para os 3 períodos de
avaliação no grupo D, em comparação a superfície M. Pode-se concluir que o DM
afetou negativamente a osseointegração, porém a insulina foi capaz de reverter esse
efeito. A superfície F favoreceu a retenção mecânica dos implantes e foi capaz de
reverter levemente o efeito negativo do diabetes sobre o percentual de preenchimento
ósseo entre as roscas.