A zona costeira do Estado do Ceará estende-se por 570 km, entre os estados do Rio Grande do Norte, ao leste e Piauí, ao oeste, com trechos que exibem os baixos platôs sustentados pela Formação Barreiras e acima desta, a planície quaternária a qual possui depósitos de origem fluvial, lagunar e eólico. Os eolianitos, rochas que foram depositadas pela ação eólica, são unidades geomorfológicas que, no Brasil, tem ocorrência restrita à região Nordeste. Alguns afloramentos podem apresentar restos vegetais litificados, inicialmente interpretados como raízes, cortando as camadas de arenito e expostas pela erosão. A análise e estudo aprofundado dessas formas de vida pretéritas da zona costeira, auxiliada por prévios dados geológicos, geocronológicos e sedimentológicos, servem como um subsídio para a interpretação de dados paleoambientais e paleohidrológicos, assim como de informações edáficas, permitindo um melhor entendimento das condições ambientais locais. Objetivou-se com esta pesquisa identificar esses vegetais antigos preservados como ramos mineralizados nos eolianitos da região costeira de Camocim. O método da pesquisa esteve baseado em levantamento bibliográfico, dados de campo e na observação direta do material, com análises químicas e morfológicas das amostras coletadas. A interpretação dos fenômenos geológicos e biológicos envolvidos lançou mão dos princípios gerais da Biologia, Ecologia e Paleontologia. As análises químicas nos vegetais mineralizados foram feitas a partir da técnica de espectrometria por dispersão de raios-X, revelando que não houve variações significativas entre a composição das amostras, sendo constituídas por carbonato de cálcio (CaCO3). Elementos traço como Magnésio, Silício, Alumínio, Cloro, Bromo e Fósforo também foram identificados. A investigação morfológica dessas plantas se deu em quatro espécimes com diferentes diâmetros (0.5, 1.2, 1.7 e 2.0 cm), observando características morfológicas e anatômicas com análises em microscopia eletrônica. Apenas o espécime 4 exibiu estruturas interpretadas como elementos de vaso, solitários e/ou múltiplos de dois elementos e raios homocelulares com células procumbentes, características que podem ser correlacionadas à família Fabaceae. Os espécimes foram interpretados como plantas herbáceas a subarbustivas que habitaram a região estuarina. A caracterização química das amostras atesta a variedade composicional dos sedimentos depositados no litoral da região, enquanto a presença de estruturas citológicas preservadas com a identificação de um provável táxon acrescenta novas informações a respeito da história dos eolianitos e de seu conteúdo vegetal mineralizado.