Para conhecer a dinâmica natural do Taperaçu, este estudo teve como objetivo caracterizar
espaço-temporalmente as oscilações das variáveis hidrodinâmicas e hidrológicas ao longo de
15 meses de coleta. Dados de precipitação, intensidade dos ventos e temperatura do ar foram
obtidos, através do Instituto Nacional de Meteorologia, entre outubro de 2010 e dezembro de
2011. Coletas de campo foram realizadas a cada dois meses durante marés de quadraturas, em
três setores (inferior, médio e superior) do estuário, entre outubro de 2010 e dezembro de
2011. Um CTD foi fundeado no setor médio para realizar medidas de salinidade, temperatura
da água e oscilação do nível dágua durante 25 horas. Uma embarcação foi utilizada para
coletar amostras de água com uma garrafa de Niskin, para posterior obtenção de dados de pH,
material particulado em suspensão, nutrientes dissolvidos e clorofila a, durante ciclos de
enchentes, nas camadas superficial e fundo. Simultaneamente, foram utilizados um
correntômetro (para medir a intensidade das correntes) e um CTDO (para obter dados de
salinidade, temperatura, turbidez, oxigênio dissolvido e oxigênio saturado). Os ciclos de maré
foram assimétricos com períodos de vazante mais longos do que os períodos de enchente. A
oscilação do nível dágua foi de até 4,0 m, sendo esta registrada em outubro de 2011. As
correntes de maré alcançaram uma velocidade máxima de 1,2 m/s (outubro de 2011). A
temperatura da água foi alta e constante com valores mensais entre 27,0 e 30,0°C. A
salinidade apresentou uma ampla variação entre as estações chuvosa e seca (2 a 38). Em geral,
o estuário apresentou águas bem oxigenadas (setores inferior e médio), turvas, com altas
concentrações de clorofila a e nutrientes dissolvidos. Altas concentrações de nutrientes
dissolvidos foram encontradas durante a estação chuvosa contribuindo para os blooms
fitoplanctônicos. Com relação a todas as variáveis estudadas, pequenas variações foram
encontradas entre as amostras superficiais e de fundo. Com os dados obtidos foi possível
concluir que a amônia foi a fração nitrogenada preferida pelo fitoplâncton, o qual poderia ser
explicado o aumento da biomassa primária em função ao aumento das concentrações de
amônia. Como o estuário do Taperaçu não possui fonte de contaminação antrópica, e está
localizado dentro de uma importante área de manguezal, esta floresta pode ser considerada
como a principal fonte de nutrientes dissolvidos para o sistema local. Além disso, as altas
concentrações de nutrientes e de clorofila a podem também ter sido resultado da re-suspensão
de material do fundo quando as correntes foram mais intensas (principalmente em outubro de
2011). Estes processos são mais intensos em eventos equinociais.