RESUMO
Infecções causadas por Pseudomonas spp. tornou-se um desafio para os clínicos devido a sua resistência intrínseca, bem como sua incrível capacidade de adquirir genes resistência aos antimicrobianos, associada a sua virulência. Neste contexto, a disseminação de cepas ST277 de P. aeruginosa carreadoras do gene blaSPM-1 entre os hospitais brasileiros elevou as taxas de resistência aos carbapenens. Além disso, a resistência cruzada com outras classes de antimicrobianos verificada nestas cepas epidêmicas confere o fenótipo de multirresistência (MDR). Devido às proporções continentais brasileiras, estudos epidemiológicos que visem avaliar os mecanismos de resistência em isolados bacterianos em âmbito nacional são de extrema importância. Sendo assim, o presente estudo objetivou caracterizar molecularmente isolados clínicos de Pseudomonas spp. resistentes aos carbapenems provenientes de infecções de corrente sanguínea (ICS) de pacientes internados em diferentes centros médicos brasileiros. Todos os isolados de Pseudomonas spp. enviados pelos centros médicos participantes tiveram sua reidentificação e o teste de sensibilidade aos antimicrobianos realizado pelo sistema automatizado BD Phoenix® 5.1 TM. Posteriormente, aqueles isolados que apresentaram resistência ao imipenem e ao meropenem tiveram sua identificação em nível de espécies confirmada por MALDI-TOF MS. As concentrações inibitórias mínimas para 10 antimicrobianos foram calculadas pela técnica de microdiluição em caldo, e a similaridade genética de todos os isolados resistentes aos carbapenens foi realizada pela técnica de PFGE. Genes codificadores de resistência adquirida aos β-lactâmicos, aos aminoglicosídeos e às quinolonas foram investigados por PCR seguido de sequenciamento. Entre 2007 a 2011, 280 isolados de Pseudomonas spp. causadores de ICS foram enviados por 14/16 hospitais participantes do Projeto Brazilian SCOPE, sendo um isolado por paciente. A grande maioria dos isolados de Pseudomonas spp. foi recuperada entre 2008 e 2009. A faixa etária dos pacientes com ICS por Pseudomonas spp. variou de 31 dias a 92 anos, sendo que a maioria dos pacientes eram do sexo masculino (52%). Uma taxa de mortalidade de 57% foi observada entre os pacientes com ICS causadas por Pseudomonas spp. no presente estudo. De acordo com o perfil de sensibilidade obtido pelo BD Phoenix®, 32% (n=87/271) dos isolados foram considerados resistentes aos carbapenens. Desses, apenas 57 (65,5%) foram avaliados quanto à produção de carbapenemases e o perfil de similaridade genética avaliada pela técnica de PFGE, já que 30 isolados foram excluídos do estudo por não estarem mais viáveis ou por não confirmarem a resistência a ambos os carbapenens pela técnica de microdiluição em caldo. Todos os isolados resistentes a ambos carbapenens foram identificados como P. aeruginosa, a exceção de um único isolado cuja identificação foi inconclusiva entre Pseudomonas monteilii/mosselii pela técnica de MALDI-TOF MS. Dos antimicrobianos testados, somente a polimixina B apresentou atividade frente a todos os isolados de Pseudomonas spp. resistentes aos carbapenens (CIM50 = 0,5 μg/mL). As MβLs foram detectadas em 63,1% dos isolados (n=36/57). O gene blaSPM-1 foi o mais frequente, presente em 39% (n=32) dos isolados, seguido pelos genes blaIMP-like (n=4; 7%). O isolado identificado como P. monteilii/mosselii apresentou CIMs para imipenem e meropenem de 1 μg/mL (S) e 32 μg/mL (R), respectivamente, e carreava o gene blaIMP-16-like. O gene blaSPM-1 foi encontrado em todos os estados avaliados no estudo. Devido a coprodução entre SPM-1 e RmtD verificada na maioria dos isolados, o gene rmtD também apresentou um alta frequência. Por outro lado, alguns genes de resistência foram encontrados restritos a determinados hospitais e/ou regiões geográficas, como blaGES-16 (DF), blaGES-1 (RS), blaIMP-1 (SP), blaIMP-16-like (SP), blaCTX-M-14-like e rmtE (CE). As coproduções de RmtD+GES-1+SPM-1, RmtD+CTM-M-1/2 e RmtD+CTX-M-14 foram observadas. O gene rmtE foi detectado em um único isolado que também carreava o gene blaCTX-M-1/2. Os 53 isolados tipáveis foram agrupados em 11 grupos clonais (A - K), considerando uma similaridade ≥ 80%. A maioria dos isolados pertencentes ao clone A eram produtores de SPM-1+RmtD e estavam distribuídos por cinco estados. Neste clone ainda foram agrupados os isolados produtores de IMP-1, CTX-M-14+RmtD e GES-1+SPM-1+RmtD. O presente estudo demonstrou que a produção de SPM-1 continua sendo o principal mecanismo de resistência aos carbapenens verificadas nos isolados de P. aeruginosa causadores de ICS no Brasil. Além disso, a disseminação de clones epidêmicos intra e inter-hospitalar é preocupante, e a emergência de novos mecanismos de resistência observada em nosso estudo evidencia a urgência na criação de um programa nacional de vigilância de resistência bacteriana aos antimicrobianos e a aplicação de medidas eficazes no controle de patógenos MDR.