O manguezal é um dos ecossistemas mais produtivos do planeta. Tal produção tem relação direta com o seu desenvolvimento estrutural e acúmulo de biomassa, tanto abaixo quanto acima do solo. O uso de equações alométricas para a quantificação de biomassa acima do solo, por exemplo, tornou-se uma ferramenta comum nos estudos realizados em áreas de manguezal no mundo inteiro. No Brasil, estudos que desenvolvem modelos alométricos para a estimativa de biomassa acima do solo para os manguezais não são muitos, enquanto para a costa amazônica brasileira ainda não foram elaborados. Assim, o presente estudo teve como principal objetivo, além de caracterizar a estrutura dos manguezais da península de Ajuruteua, em Bragança, costa amazônica brasileira, desenvolver equações alométricas para as espécies mais dominantes dos manguezais dessa região [Rhizophora mangle (L.), Avicennia germinans (L.) L., Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn.]. Os modelos gerados podem estimar a biomassa total acima do solo, bem como a biomassa dos seus diferentes compartimentos (Tronco, Galho, Folha e Raiz Escora), sendo este último compartimento apenas para as raízes escora de R. mangle. Multiplicando os valores de biomassa pelos percentuais de carbono da madeira das espécies de mangue foi possível fazer a conversão de biomassa em carbono. Outro objetivo foi estimar o incremento de biomassa e carbono ao longo do período de quatro anos de monitoramento de L. racemosa, no intuito de testar a diferença entre as classes de diâmetro do tronco da árvore e a variação entre as estações (seca e chuvosa) e os anos. Da mesma forma objetivou-se estimar a perda de biomassa e carbono efetivada pela construção da rodovia estadual PA-458 e corte seletivo de árvores de mangue. Na caracterização estrutural foram mensurados 16.311 indivíduos, sendo72% de R. mangle, 20% de A. germinans e 08% de L. racemosa, com DAP entre 0,50 a 191 cm e altura de 1 a 27 m. Onde no geral, R. mangle apresentou maior dominância (DoR = 51.1%) e A. germinans maior DAP e Altura, 37.4 cm e 13.0 m, respectivamente. De 154 equações foram selecionados 22 modelos, os quais forneceram os valores de biomassa das espécies onde A. germinans (129,3 Mg ha-1) apresentou maior biomassa e maior teor médio de carbono com 52% (56,91 Mg C ha-1). Quanto ao incremento de biomassa o valor médio obtido para L. racemosa foi de (547,36 g mo-1) e de carbono foi de 214,2 g mo-1, ficando o incremento bem evidenciado nos períodos chuvosos. No que concerne ao acumulo e perdas de biomassa e carbono, a estimativa de biomassa acima do solo para a península foi de 4230 Gg, dos quais A. germinans teve maior representatividade (2130 Gg). A ação antrópica causou uma perda de 117.895,43 Mg de biomassa na área localmente conhecida como Área Degradada, correspondendo a 91% de toda a biomassa perdida. Os valores de carbono seguiram a mesma tendência com relação à perda. Sendo assim, concluiu-se que os modelos selecionados no presente estudo para a estimativa da biomassa acima do solo podem ser usados para estimar a biomassa e o carbono da floresta de mangue ao longo da porção oriental da costa amazônica brasileira. No entanto, é necessário que as florestas em foco apresentem as mesmas características estruturais e ambientais, no intuito de garantir a melhor acurácia e confiabilidade dos resultados. Da mesma forma, concluiu-se que as mudanças nos padrões de pluviosidade afetam o crescimento de L. racemosa. A redução das taxas de pluviosidade é um fator que diminui a produção de biomassa (crescimento da planta) e carbono dessa espécie. Por último, os resultados revelaram que os efeitos antrópicos oriundos da construção da rodovia PA-458, principalmente as consequências advindas desse evento, como a formação de uma grande Área Degradada e a formação de uma Lagoa Salina, além da área cortada para a implantação da rodovia e o corte seletivo ao longo da península de Ajuruteua causam a perda de um valor considerável de biomassa e carbono, cujos efeitos negativos promovem um acréscimo acelerado das emissões de carbono para a atmosfera, diminuindo o estoque de carbono do ecossistema e contribuindo para o aquecimento global, além de favorecer a redução dos recursos e serviços inerentes aos manguezais da costa amazônica brasileira.