O Laboratório de Humanidades (LabHum), criado em 2003 na Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM), consiste em um grupo de discussão de Clássicos da Literatura Universal, onde um coordenador metodologicamente capacitado faz a mediação dos encontros a fim de facilitar o compartilhamento de ideias e sentimentos suscitados pela leitura. Partindo assim desse objeto de pesquisa, esse trabalho teve por objetivo compreender como a dinâmica do LabHum, especialmente nas discussões dos romances “Admirável Mundo Novo” (Aldous Huxley, 1932) e “Vida e Proezas de Aléxis Zorbás” (Nikos Kazantzákis, 1946), repercutiu na formação pessoal e/ou profissional dos participantes, procurando aprofundar, ainda, a reflexão sobre o impacto da literatura por meio da metodologia proposta. Para tanto, optamos pela utilização de uma metodologia qualitativa de coleta de dados baseada na Observação Participante, na análise de Relatos de Experiência, e na História Oral de Vida. Dessa maneira, ao final dos 31 encontros, os 61 integrantes, com faixa etária entre 20 e 65 anos aproximadamente, foram convidados a relatarem, por escrito, o que significou para eles participar dos encontros de leitura e discussão dos romances, sendo que para os estudantes e profissionais da saúde o convite foi estendido para que também nos contassem suas trajetórias, resultando em 34 Relatos de Experiência e nove narrativas de História Oral de Vida. Essas 43 narrativas foram analisadas pela Imersão/Cristalização, técnica inspirada na Fenomenologia Hermenêutica, sobre as quais realizamos uma Compreensão Interpretativa. Os resultados indicam que a dinâmica afetiva do Laboratório de Humanidades, que estimula o pensamento crítico e reflexivo a partir da leitura literária compartilhada em um ambiente diverso, propicia o desencadeamento, em diferentes níveis de intensidade, de experiências de crise e despertamento, com consequente ação transformadora e/ou humanizadora. Por outro lado, ao privilegiar os afetos e o contexto do leitor, contribui para a construção de leitores literários, ou seja, que alteram seus hábitos de leitura, que aprendem a aproximar a literatura da vida, e que passam a valorizar as narrativas literárias na formação pessoal e profissional, despertando-os para o potencial humanizador dos textos ficcionais.