A nanotecnologia tem importante interesse social, devido sua ampla aplicação em
diferentes produtos industriais. A atual preocupação com nanomateriais (NMs) é o
perigo para a saúde humana e para o ambiente. Considerando que os NMs podem
chegar a corpos d'água, há necessidade de estudar os efeitos tóxicos dos NMs em
organismos aquáticos. Neste contexto, métodos in vivo utilizando peixes podem
fornecer informações sistêmicas sobre efeitos de NMs no organismo e por meio de
métodos in vitro, utilizando linhagens de células de peixes, é possível corroborar os
efeitos observados nos métodos in vivo, sendo relevante em estudos
ecotoxicológicos, uma vez que é possível ter tanto uma abordagem dos efeitos em
um animal inteiro quanto aos modos de ação de NMs em moléculas específicas,
como o DNA. Assim sendo, os objetivos do presente trabalho foram: 1) avaliar os
efeitos de nanoesferas de prata (AgNS) na espécie de peixe Hoplias intermedius,
contaminada a curto e a longo prazo por exposição via trófica e comparar estes com
os efeitos causados por íons de prata (Ag+) — material não particulado e de mesma
composição química —, por meio de biomarcadores morfológicos (retina), genéticos
(sangue, cérebro, fígado e rim) e bioquímicos (fígado); 2) avaliar o modo de ação da
nano-titânio (TiO2NP), da nano-prata sem estabilizante (AgNP) e da nanoesfera de
prata com estabilizante polivinilpirrolidona (AgNS) no DNA, por meio de método in
vitro com a linhagem de células de peixe RTG-2. Na retina, na esclera e no nervo
óptico de H. intermedius foram observadas deposições de AgNS após 40 dias de
exposição, além de danos como: alterações morfológicas em bastonetes,
melanossomos aderidos a cones, hemorragia e ruptura do epitélio pigmentado. A
citotoxicidade foi observada pela alteração da atividade das enzimas antioxidantes
(superóxido-dismutase, catalase e glutationa S-transferase) no fígado após
exposição aguda, assim como alteração na concentração de hidroperóxidos lipídicos
e de metalotioneínas, indicando estresse oxidativo. As AgNS foram genotóxicas em
todos os tecidos de H. intermedius, tanto na exposição aguda quanto na subcrônica,
em que foi observada diminuição do escore do ensaio Cometa alcalino padrão dos
tratamentos em relação ao controle negativo, sugerindo o dano no DNA do tipo
crosslink DNA-DNA ou DNA-proteína. O fígado foi o principal tecido alvo na
exposição aguda, apresentando maiores efeitos genotóxicos nos tratamentos com
AgNS e Ag+, em comparação com os outros tecidos; e na exposição subcrônica, os
efeitos genotóxicos por AgNS foram maiores no rim e no cérebro, enquanto que o
Ag+ causou danos principalmente no fígado e no rim. Com o método in vitro e
modificações em etapas do ensaio Cometa alcalino foi possível dois modos de ação
de TiO2NP, AgNP a AgNS no DNA: o dano oxidativo e o crosslink DNA-DNA ou
DNA-proteína. Assim, confirmando o dano crosslink DNA-DNA ou DNA-proteína
encontrado no DNA dos tecidos da H. intermedius. Portanto, o presente trabalho
confirmou o potencial tóxico dos NMs estudados, além de demonstrar que o uso de
peixes em métodos in vivo e in vitro, conjuntamente, pode avaliar de forma mais
precisa os efeitos causados por NMs, predizendo o perigo para o ambiente aquático.