O uso do fogo no meio rural é uma prática antiga e comum. Assim, os
conhecimentos adquiridos são passados de pai para filho, que continuam a empregar
o fogo para diversos fins, principalmente para a abertura de áreas, o preparo da área
para a agricultura e a renovação do pasto. Entretanto, as últimas décadas foram
marcadas por campanhas desestimulando e punindo quem faz o seu uso, de modo
que muito do conhecimento tradicional do fogo tem-se perdido. Assim, o presente
trabalho teve como objetivo caracterizar o uso do fogo pelos moradores do
assentamento Vale Verde, em Gurupi – TO, com o intuito de identificar os
conhecimentos dos moradores sobre a legislação ambiental referente à queima
controlada, as práticas de manejo do fogo utilizadas e a sua percepção com relação
aos riscos que o emprego do fogo pode acarretar. Para isso, foi realizado um censo
no assentamento, sendo realizadas entrevistas e aplicados questionários
semiestruturados, com questões abertas e fechada sobre os temas de interesse, bem
como de assuntos pessoais afim de caracterizar a população socioeconomicamente.
Os resultados mostraram uma população de baixo grau de escolaridade (63,6% dos
entrevistados analfabetos ou possuíam o ensino fundamental incompleto), madura
(com idade média de 41 anos), com representatividade parecida entre os gêneros
(46,9% dos moradores são do gênero feminino). Quase todos os moradores
apresentaram renda de R$ 501,00 a R$ 2.000,00, proveniente principalmente da
agricultura (venda de produtos em feiras municipais e para órgãos do governo), da
aposentadoria e de trabalhos externos no município, sendo os principais produtos
comercializados: mandioca, milho, hortaliças, ovos, bem como carnes bovina, suína,
caprina e de aves. Foi constatado ainda que, apesar de muitos moradores
apresentarem receio no emprego do fogo, este ainda é muito utilizado para a queima
do lixo doméstico, na limpeza do terreno e na preparação da área para a agricultura e
o manejo do pasto, sendo os primeiros realizados de forma contínua ao longo do ano
e os dois últimos empregados no final da estação seca. Apesar de apenas 15,63%
dos entrevistados terem alguma forma de capacitação sobre incêndios florestais, os
moradores apresentaram grande experiência prática devido aos incêndios que
ocorrem de modo constante na região (89,58% dos entrevistados já auxiliaram o
combate de pelo menos um incêndio ao longo da sua vida). Dentre as técnicas de
combate mais conhecidas e empregadas estão a construção de aceiros e o combate
direto, seja com a utilização de ramos de galhos, baldes de água ou pás com terra.
Para isso também se utilizam bombas costais, enxadas, rastelos e tratores, se
disponíveis. Quanto à queima controlada, dentre as técnicas de prevenção
empregadas estão a análise e direção do vento, a construção de aceiros, o aviso
prévio aos vizinhos e a roçada do local. Geralmente em pequenas áreas, estas
ocorrem no início da manhã ou ao final da tarde. Por fim, os moradores demonstraram
preocupação no emprego do fogo devido aos riscos que ele apresenta, causando
danos à flora local e a morte da fauna, bem como à saúde dos moradores, sendo
sempre empregados equipamentos de proteção durante o manejo do fogo,
principalmente bonés, camiseta de manga longa, calças e botas.