As interações entre plantas e polinizadores têm grande relevância para o entendimento de
questões ecológicas, com implicações na estrutura das populações e comunidades. Em termos
evolutivos, a polinização biótica é considerada um processo chave na diversificação de grupos
de angiospermas, porém a importância de sistemas generalistas para esta diversificação é
controversa e foi pouco estudada. Nesta tese foram examinados aspectos ecológicos e da
evolução dos sistemas de polinização de 16 espécies da tribo Rhipsalideae, a qual engloba os
representantes epifíticos de Cactaceae. Dados sobre a morfologia e biologia floral,
polinizadores e a fenologia de floração foram analisados em relação ao (i) grau de
generalização-especialização do fenótipo floral e do sistema de polinização; (ii) mecanismos
de isolamento reprodutivo pré-polinização; e (iii) delimitação e evolução dos nichos de
polinização através de uma abordagem funcional e filogenética. As flores das espécies de
Rhipsalis e de Lepismium cruciforme são abertas, actinomorfas, polistêmones e brancas.
Secretam pequenas quantidades néctar muito concentrado, que assim como o pólen, é
acessível a diversos grupos de visitantes florais, caracterizando-as como fenotipicamente
generalistas. Um total de 61 espécies de insetos de quatro ordens foi registrado como
visitantes florais do conjunto de espécies, as quais se distribuíram ao longo de um espectro de
generalização ecológica (i.e., número de espécies de polinizadores). No entanto, visitas por
abelhas foram muito mais frequentes que a dos demais grupos (exceto para R. cereoides,
predominantemente polinizada por moscas), caracterizando os sistemas de polinização de
Rhipsalideae como funcionalmente especializado. Por outro lado, o grupo de abelhas abarcou
desde espécies solitárias oligoléticas até eusociais poliléticas, além da supergeneralista Apis
mellifera, o que constitui um tipo de generalização funcional, o qual pode resultar em
pressões seletivas distintas sobre as flores dessas espécies de cactos. Mecanismos pré
iii
zigóticos, tais como floração não sobreposta e mecanismos de polinização (i.e., deposição
diferencial de pólen no corpo dos polinizadores) constituíram barreiras fracas para o
isolamento reprodutivo das espécies simpátricas de Rhipsalis. O uso divergente de
polinizadores, pelo menos em relação aos mais frequentes, possivelmente atua como uma
barreira pré-zigótica mais importante dentre os mecanismos de isolamento reprodutivo
avaliados nesse estudo. Análises de modularidade utilizando a frequência de visitas por
grupos funcionais definiram quatro nichos de polinização para Rhipsalis. O estado ancestral
mais provável do nicho de polinização para o gênero foi definido por abelhas pequenas de
língua curta, com três transições de nicho ao longo da filogenia. Espécies mais aparentadas
interagiram mais fortemente com os mesmos grupos funcionais, o que sugere conservação do
nicho de polinização na maioria dos eventos de diversificação do gênero. Em conjunto, os
resultados incrementam o conhecimento sobre a biologia reprodutiva de um importante
componente florístico na Mata Atlântica, ilustram as distintas dimensões de especialização
generalização envolvidas no processo de polinização e fornecem suporte à ideia que sistemas
de polinização generalistas englobam diferentes nichos de polinização, os quais podem estar
distribuídos consistentemente ao longo dos clados em linhagens de angiospermas.