Objetivo: Este estudo populacional tem por objetivos correlacionar o índice tornozelo-braquial com morbidade e mortalidade cardiovascular e com a extensão da doença coronária em pacientes idosos ambulatoriais, assintomáticos para doença arterial periférica de membros inferiores.
Métodos: Analisamos, prospectivamente, 100 pacientes, com idade igual ou superior a 65 anos, do Ambulatório de Cardiogeriatria da Universidade Federal de São Paulo, portadores de doença arterial coronária, documentada pela cinecoronariografia (estenose igual ou superior a 50% de tronco de coronária esquerda e/ou estenose superior a 70% em pelo menos uma artéria coronária subepicárdica), que imediatamente após foram avaliados pelo índice tornozelo-braquial. Considerou-se o índice tornozelo-braquial menor que 0,90 para diagnóstico de doença arterial periférica. A evolução dos pacientes foi obtida em dois momentos: inicial (média 28,9 meses) e o seguimento tardio (média 70,8 meses), quando foram avaliados os eventos cardiovasculares maiores definidos por: mortalidade geral e cardiovascular; Infarto Agudo do Miocárdio, fatal e não fatal; e acidente vascular cerebral, fatal ou não fatal.
Resultados: A idade média dos pacientes no início do estudo foi 77,4 anos e no seguimento total, 82,9 anos. Obtivemos o seguimento tardio (média 71,2 meses) de todos os pacientes. Encontramos alta prevalência de Hipertensão Arterial Sistêmica (96%), sendo o Infarto Agudo do Miocárdio a manifestação clínica predominante e, no momento da inclusão, todos estavam assintomáticos para a doença arterial periférica, assim como na evolução tardia. Em 47%, o índice tornozelo-braquial foi menor que 0,90 e, quanto a coronariopatia, houve maior prevalência de multiarteriais quando comparados aos uniarteriais do mesmo grupo (83% x 17%, respectivamente, p=0,004). No seguimento inicial, o índice tornozelo-braquial reduzido foi um importante preditor de eventos, associado a maior mortalidade geral (risco relativo 3,01 , p=0,070), Infarto do Miocárdio fatal e não fatal (risco relativo 2,54, p=0,085) e eventos cardiovasculares maiores (risco relativo 2,70 , p= 0,032 ), quando avaliados em relação ao tabagismo, diabetes mellitus e gênero, ajustado também para extensão de coronariopatia (multiarteriais). Já no seguimento tardio, o índice tornozelo-braquial reduzido se manteve como um preditor de eventos
cardiovasculares maiores (risco relativo 1,58, p=0,029) e de mortalidade geral (risco relativo 1,48, p=0,081), assim como o diabetes mellitus (risco relativo 1,56, p=0,030 e 1,71, p=0,016), respectivamente, quando avaliados em relação ao tabagismo e gênero (sexo feminino). Ajustando-se para extensão de coronariopatia e Diabetes, o Índice Tornozelo-Braquial reduzido manteve correlação com eventos cardiovasculares maiores.
Conclusão: Em pacientes idosos ambulatoriais, portadores de doença arterial coronária documentada e assintomáticos para doença arterial periférica, o índice tornozelo-braquial reduzido apresentou correlação com a extensão da coronariopatia e no seguimento inicial associou-se a maior risco de mortalidade geral e maior incidência de Infarto do Miocárdio, fatal e não fatal, nessa população, aumentando este risco em duas a três vezes. Na evolução tardia, o índice tornozelo-braquial reduzido manteve essa correlação, porém em menor magnitude se comparado ao seguimento inicial, sugerindo que o índice tornozelo braquial reduzido seja um marcador de eventos mais significativo a curto prazo na população estudada.