A abordagem utilizada na restauração florestal depende da resiliência do ecossistema
degradado. Quando a degradação ultrapassa o limiar de autorrecuperação, há necessidade de
técnicas ativas de restauração, sendo o plantio de mudas de árvores em área total a mais usada.
Um rápido recobrimento do solo e uma boa oferta de frutos zoocóricos são características
desejáveis em plantios de restauração florestal, pois contribuem para suprimir gramíneas
invasoras e acelerar o processo de regeneração natural. Entretanto, se as espécies selecionadas
com este propósito forem inadequadas, a sucessão ecológica na área pode não ser retomada
e/ou a restauração pode se tornar mais demorada e cara. Por isso, é pertinente compreender
como árvores plantadas interagem com o ambiente em processo de restauração. Assim, esse
estudo busca responder como espécies arbóreas usadas com função de recobrimento sombreiam
o solo e diferentes espécies zoocóricas produzem frutos para a fauna dispersora de sementes
em plantios jovens de restauração florestal. Primeiro, para avaliar o sombreamento do solo, 14
espécies tiveram sua arquitetura da copa e a interceptação da radiação fotossinteticamente ativa
avaliadas em plantios de restauração de três anos, com os objetivos de comparar os valores de
interceptação entre espécies, épocas do ano (estação seca e chuvosa) e áreas, e de avaliar quais
atributos da arquitetura da copa são melhores preditores de sua interceptação luminosa. Em
segundo lugar, para avaliar a provisão de frutos, 17 espécies zoocóricas, em seis plantios de três
a oito anos, foram avaliadas quanto à idade de início, periodicidade e intensidade de produção
de frutos, sendo avaliado também se plantios mais antigos têm mais espécies produzindo frutos
e maior intensidade e uniformidade na produção. Encontramos que as espécies diferem entre si
na interceptação da radiação, tanto na estação chuvosa quanto na estação seca; que a
interceptação da radiação varia entre áreas para uma mesma espécie, e, que para muitas
espécies, a interceptação varia entre as duas estações do ano, mostrando que uma espécie com
bom sombreamento na estação chuvosa pode não ser boa sombreadora na estação seca. Além
disso, na estação chuvosa encontramos que espécies com menores altura da árvore e inserção
da copa e maiores diâmetro à altura do peito e área da lâmina foliar são melhores na
interceptação, enquanto que para a estação seca o poder preditivo é menor, e representado
apenas pela menor altura, maior área da copa e maior área da lâmina foliar. Plantios mais
antigos não têm distribuição da produção de frutos zoocóricos mais uniforme e apenas três das
17 espécies produzem frutos ao longo de todo o ano, sendo as responsáveis pela produção na
estação seca. Até os oito anos, cinco espécies ainda não haviam produzido frutos, mostrando
que as espécies zoocóricas devem ser melhor selecionados para garantir melhor provisão de
frutos em plantios jovens. Concluímos que nem todas as espécies hoje chamadas de
recobridoras têm boa capacidade de interceptar a luz, e que esta característica não pode ser
eficientemente predita apenas pela estrutura de copa. Assim sendo, outros aspectos, como
fenologia foliar e respostas à competição e às condições ambientais e de manejo devem ser
consideradas para a seleção de boas espécies recobridoras. Além disso, nem todas as espécies
zoocóricas plantadas têm boa provisão de frutos (precocidade, intensidade e uniformidade) em
plantio jovens, característica que deve ser melhor utilizada na escolha das melhores espécies
para restauração da função em áreas degradadas.