Diante da atual perspectiva do Ensino de Língua Portuguesa, sobretudo a partir da utilização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) como principal forma de acesso ao Ensino Superior, consideramos a necessidade de compreender a atividade de escrita dentro da nova configuração assumida para as aulas de LP, buscando observar as relações que se estabelecem entre os principais agentes envolvidos nesse processo. Procuramos, desse modo, perceber de que forma as prescrições trazidas nos documentos oficiais que regulamentam a elaboração do ENEM têm orientado o trabalho do professor de Língua portuguesa, no que se refere às aulas de produção textual, bem como os reflexos da realização desse trabalho na atividade escrita dos alunos. Para alcançar o objetivo proposto, elegemos a tríade ENEM/professor/aluno, a partir da análise de documentos oficiais elaborados pelo INEP/MEC, da entrevista com as professoras, seguida da observação de aulas de produção textual, e por fim, os textos produzidos pelos alunos no contexto de avaliação, por meio dos simulados. Assim, para o desenvolvimento desta pesquisa exploratória, de cunho qualitativo-interpretativista e base documental, contamos com a colaboração de duas professoras de LP, que atuam em turmas de Ensino Médio de escolas da rede estadual de ensino da cidade de João Pessoa-PB, bem como de 62 estudantes, que são alunos das duas docentes. Para subsidiar a análise, tomamos como base o quadro teórico-metodológico do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), em interface com os pressupostos da Ergonomia, a partir do que propõem Bronckart (1999; 2006; 2008), Bulea (2010), Machado (2009), Amigues (2004), Tardif; Lessard (2013), entre outros autores que buscam compreender as relações que constituem a interação humana. Zabala e Arnou (2010) fundamentam nossa discussão no que diz respeito ao conceito de competência e Bronckart e Machado (2004), ao de capacidade. A discussão empreendida ao longo do trabalho aponta um novo olhar para a aula de produção textual, advindo da reconfiguração do gênero redação escolar, para adequar-se ao modelo de texto dissertativo argumentativo. A metodologia adotada pelas professoras é direcionada pela necessidade do ensino de competências e a produção escrita dos estudantes carrega os traços de caráter mais objetivo, ligados à planificação do texto, o que está associado às competências que determinam essas características e que foram trabalhadas de forma mais exaustivas em sala.