A região sul do Brasil se destaca na produção de maçãs (Malus domestica). Em 2012, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) confirmou casos de Cancro Europeu (Neonectria ditissima, fase imperfeita Cylindrocarpon heteronema) nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e no Paraná foi relatada apenas na região de Palmas. A escassez de informações a respeito do comportamento do patógeno em condições brasileiras, principalmente no que se refere à infecção em frutos, compromete o controle da doença a campo. Além disso, não há na literatura trabalhos a respeito da sobrevivência deste e de outros patógenos em ramos de macieira no período da dormência e após brotação nas áreas comerciais. Tendo isso em vista, este trabalho foi dividido em duas partes. Na primeira parte, foram estudados os efeitos de diferentes temperaturas e períodos de molhamento em processos fisiológicos da fase imperfeita de Neonectria ditissima in vitro, e também processos de infecção, colonização e reprodução ex vivo em frutos. O patógeno apresentou potencial de germinação, crescimento micelial e esporulação em ampla faixa de temperatura. Para a germinação a melhor temperatura testada foi de 20 °C, e períodos de molhamento superiores a 24 horas foram suficientes para a germinação de 70% dos conídios na faixa de temperatura entre 10 e 30 °C, sendo a temperatura ótima entre 16,6 e 18,4 °C. A produção de microconídios foi maior a 20 °C, enquanto que para a produção de macroconídios as temperaturas de 15 e 20 °C foram as melhores. Isolados coletados em diferentes épocas e/ou locais não apresentam diferenças na agressividade em frutos de macieira cultivar Gala. Apesar de não detectada a presença de N. ditissima na região metropolitana de Curitiba, as condições climáticas dessas regiões são tão favoráveis quanto àquelas de regiões do Rio Grande do Sul nas quais já foi observada a doença em frutos. A cultivar Eva não difere da cultivar Gala em relação à suscetibilidade à podridão por N. ditissima em frutos. A segunda parte do trabalho avaliou a presença e sobrevivência de patógenos em ramos de macieira como potencial fonte de inóculo após a brotação. Foram detectados os gêneros de fungos patogênicos: Neonectria sp., Colletotrichum sp., Botryosphaeria sp., Alternaria sp., Fusarium sp. Aspergillus sp., Penicillium sp. e Rhizopus sp. No período após a brotação verificou-se que os tratamentos de inverno reduziram o inóculo dos gêneros Colletorichum, Aspergillus, Penicillium e Rhizopus, entretanto, foi constatada elevada incidência dos gêneros Botryosphaeria, Alternaria e Fusarium, os quais podem se tornar problema na cultura. O patógeno N. ditissima foi detectado nas áreas de Palmas – PR, mesmo após os tratamentos de inverno, sendo potencial fonte de inóculo para a infecção depois da brotação, ao longo do ciclo da macieira. Os patógenos N. ditissima, Colletotrichum sp., Botryosphaeria sp., Alternaria sp. e Fusarium sp. isolados de ramos de macieira foram patogênicos a frutos de maçã da cultivar Gala. Recomenda-se que sejam estudadas medidas de controle específicas à redução do inóculo primário para minimizar o impacto de epidemias em campo.