A inovação para as organizações se constitui em um preceito fundamental para
sua sobrevivência num mercado cada vez mais competitivo e mutável. A
inovação está presente em todos os tipos de organização e é amplamente
difundida nas empresas sob diferentes formas e conceitos. Com intuito de
compreender como a inovação ocorre em organizações não convencionais,
também conhecidas como organizações híbridas, o presente estudo dedicou-se
a verificar como foi o processo de implantação do Sistema de Registro de
Preços (SRP) no Sesc PR. O SRP também é entendido como um processo
gerencial de compras e contratações das organizações públicas, que é estudado
em organizações híbridas. A pesquisa buscou compreender como ocorreu a
implantação desse sistema no Serviço Social do comércio do Estado do Paraná
no período de 2006 a 2015. Adotou-se abordagem qualitativa e utilizou-se o
estudo de caso, realizando-se entrevistas com diretores e assessores do Sesc
PR e também a consultora externa. A respeito da abordagem qualitativa,
também foi utilizada a análise de documentos relacionados ao SRP e
documentos históricos da instituição. Realizaram-se quatro entrevistas com
integrantes da organização e uma consultora externa que pertenceu ao quadro
da instituição, todos que acompanharam o processo de implantação do sistema
de registro de preços no Sesc PR. Foram ainda analisadas as entrevistas
juntamente com os documentos históricos, verificando-se o processo de
implantação do Sistema de Registro de Preços no Sesc PR. Como ainda
existem poucos trabalhos científicos sobre inovação em organizações híbridas, a
base teórica pautou-se na inovação gerencial e em fenômenos sociais das
organizações e as suas origens. Por meio dos resultados da análise qualitativa,
verificou-se que o processo de inovações gerencial no Sesc PR não segue a
lógica do setor privado e é também distinto do processo adotado em
organizações públicas. A natureza híbrida da organização cria especificidades
no processo de inovação, regido por demandas rivais em termos de legitimidade.
Por um lado, os sindicatos mantenedores buscam fortalecer a natureza privada
da organização e seu afastamento de uma lógica de Estado, pressionando pela
adoção de práticas de mercado e pela gestão eficiente de recursos. Por outro
lado, o Sesc sofre influência de órgãos de controle estatal, que pressionam para
a adoção de práticas e padrões legítimos no âmbito das empresas públicas e
favoráveis ao trabalho de auditoria e fiscalização externa. A resultante dessas
forças caracteriza a gestão híbrida da organização. No Sesc PR as inovações
objetivam minimizar o controle direto externo por meio de ações judiciais em
defesa da natureza privada, da autonomia da organização e por meio do
estabelecimento de regulamentos e procedimentos próprios em substituição às
normas de conduta impostas por agentes fiscalizadores. No entanto, a perda de
legitimidade junto aos agentes fiscalizadores públicos pode ser nociva à
organização, visto que se trata de ente frágil politicamente na medida em que
sua atuação depende dos repasses realizados pelo Estado. Desse modo, ao
invés de adotar gestão guiada exclusivamente pelo mercado, emprega
estratégia conciliatória de inovação, fazendo concessões no que concerne à
forma e ao conteúdo. O hibridismo também se manifesta na estratégia de
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inovação gerencial por meio do isomorfismo às práticas de gestão pública. Muito
embora sejam rejeitadas as intervenções diretas dos entes estatais, as
regulamentações por eles criadas, assim como os padrões e práticas de gestão
do negócio, são a principal fonte de inspiração para a construção dos
regulamentos internos e para a mudança de práticas de gestão. A inovação
gerencial no processo de compras do Sesc PR caracteriza-se, portanto, mais
como esforço estratégico para a manutenção da legitimidade da organização e
suas práticas a partir das diretrizes ambíguas oriundas dos dois principais eixos
do hibridismo organizacional do que mera busca por eficiência operacional em
conformidade à lógica de mercado ou por legitimidade simbólica em face das
pressões de fiscalização de ordem pública. Verifica-se, deste modo, que a
resposta organizacional às pressões de natureza institucional distinta não se
manifestou como simples desacoplamento técnico-institucional. Ao invés disso, a
organização acoplou suas práticas a diferentes orientações institucionais por
meio da separação dos níveis de atuação de imagem e representação e regras e
ações, mantendo-se legítima em seu hibridismo, ainda que distante das ideias
de eficiência tanto público quanto privado.