Essa dissertação, realizada no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (PPGDR/UNISC), apresenta uma análise da repercussão das condicionalidades do Programa Bolsa Família em Chapecó, SC, a partir do acesso das famílias beneficiárias aos direitos socioassistenciais, recorte territorial eleito por ser o município considerado como polo econômico do Oeste de Santa Catarina e por apresentar um número considerável de famílias beneficiárias. O método de abordagem utilizado para esta pesquisa é o materialista dialético e histórico, pois ele possibilita uma leitura crítica da realidade social. Essa pesquisa é de caráter qualitativo e exploratório. Foram utilizadas revisão bibliográfica e pesquisa documental para entender melhor o fenômeno estudado. A coleta de dados primários foi realizada por meio de entrevistas às famílias beneficiárias do Bolsa Família e às profissionais dos CRAS que trabalham diretamente com essa população. Ainda coletaram-se dados secundários da plataforma SAGI (Relatório de Informações Sociais) do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS, 2015) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015). Constata-se que os programas de transferência de renda, no Brasil, inauguram um debate que se aprofunda na década de 1990, em que Plano Brasil Sem Miséria e o Programa Bolsa Família passaram a se constituir como uma das principais estratégias de proteção social a partir da Política Nacional de Assistência Social. Deste modo, pensar no desenvolvimento regional, focado na questão territorial torna-se fundamental para a elaboração de políticas públicas voltadas para a promoção do território, considerando-se suas particularidades. Não se pode negar que o Bolsa Família ampliou e integrou programas sociais, articulando ações e intersetorialidade no território entre o governo federal com os estados e municípios. Os principais resultados identificados neste estudo evidenciam que as condicionalidades do Programa Bolsa Família contribuem para o acesso das famílias beneficiárias aos direitos socioassistenciais. Contudo, identifica-se que o Bolsa Família possui efeito somente no alívio da pobreza e não na superação da situação de vulnerabilidade social. O programa apresenta dificuldades em garantir a oferta dos serviços de Assistência Social, Saúde e Educação, comprometendo o processo de implementação das condicionalidades do Bolsa Família. Os desafios do Programa para o território de Chapecó estão relacionados especialmente com o trabalho desenvolvido a partir dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), pois há uma grande dificuldade de sensibilizar as famílias a participarem das ações promovidas pelas profissionais, bem como, de garantir que o seu ingresso no mercado de trabalho em virtude da baixa escolarização. Os profissionais evidenciaram algumas sugestões para qualificar a implementação do programa, como a busca pela garantia do empoderamento dos beneficiários através da educação, especialmente através de cursos profissionalizantes como o Pronatec; a criação de uma condicionalidade no Programa vinculada à assistência social que garantisse uma maior participação das famílias nas atividades promovidas pelos CRAS; bem como, um comprometimento do poder público para com a profissionalização dessa população. Identificaram-se também algumas críticas com relação ao Programa, tais como: a falta de honestidade de algumas pessoas ao declararem seus rendimentos; dificuldades na administração do Programa; a alimentação incorreta dos dados na plataforma SICON; a desmobilização do poder público em fortalecer o trabalho em rede, entre outros aspetos. Observou-se, ainda, que em Chapecó não existe um processo de execução e de monitoramento das ações envolvendo as áreas da saúde, educação e assistência social. O trabalho em rede também é um desafio que precisa ser superado no território chapecoense. Com este estudo destaca-se ser imprescindível que a Assistência Social, Saúde e Educação dialoguem sobre território, superando os desafios em se trabalhar com essa população, preenchendo essas lacunas, pensando na organização dos serviços que venham fortalecer a rede de atendimento às famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família. Por fim,constatou-se que as condicionalidades são fundamentais para que haja o processo de inclusão social, autonomia e protagonismo das pessoas beneficiárias, embora se identifique a necessidade de haver alguns ajustes no processo de implementação do Programa Bolsa Família.