O Greenstone belt de Crixás é uma associação de rochas vulcano-sedimentares de baixo
a médio grau metamórfico confinada entre complexos granito-gnáissicos arqueanos e que
é parte do Maciço de Goiás, Província Tocantins. A seqüência supracrustal se estende por
cerca de 30 km na direção Norte-Sul, tem de 2 a 6 km de largura e sua geometria é de
uma quilha sinformal invertida com limites em planta em forma de sucessivas cúspides.
Sua estratigrafia compreende uma seção inferior de rochas vulcânicas e outra superior
sedimentar. A seção vulcânica é composta, na base, por komatiitos e raras intercalações
de basalto e BIF (Formação Córrego Alagadinho) e, no topo, por basaltos toleíticos
(Formação Rio Vermelho). A seção sedimentar (Formação Ribeirão das Antas) consiste de
filitos carbonosos com lentes de dolomito e grauvacas. O greenstone belt tem sido
exaustivamente estudado há mais de três décadas principalmente por conter importante
reserva de ouro, atualmente explorada pela Mineração Serra Grande S.A. Contudo, desde
meados dos anos 1980, algumas pesquisas indicaram que o mesmo tem potencial para a
ocorrência de níquel sulfetado associado a rochas máfico-ultramáficas, com a identificação
de um alvo conhecido como Depósito Níquel Sulfetado de Boa Vista, recentemente
pesquisado em detalhe pela Votorantim Metais. O presente estudo, originado a partir de
uma interação entre o setor produtivo (Votorantim Metais e Geoexplore Consultoria e
Serviços Ltda.) no qual o aluno está inserido e o meio acadêmico no desenvolvimento da
tese, visou caracterizar e melhor compreender os controles, épocas e processos de
mineralização e estabelecer guias prospectivos para ocorrências de níquel sulfetado no
Greenstone belt de Crixás a partir do Depósito de Níquel de Boa Vista. O estudo envolveu
todas as etapas consideradas como clássicas em atividades relacionadas à pesquisa
mineral de metais base e petrografia e datação geocronológica de forma complementar.
As atividades de campo resultaram em um mapa geológico com detalhamento da área
estudada. Rochas máficas e ultramáficas das formações Rio Vermelho e Córrego do Sítio,
respectivamente, constituem as principais unidades litológicas do Greenstone belt de
Crixás associadas às ocorrências de níquel. As mineralizações de níquel demonstraram
um comportamento bastante heterogêneo em relação às suas rochas encaixantes,
podendo tanto ocorrer em litologias máficas quanto ultramáficas. Das diversas seções,
cinco perfis foram selecionados para a elaboração do modelo geológico do minério e
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melhor entendimento da estratigrafia e geometria dos corpos mineralizados, sendo um furo
detalhado por petrografia, o que permitiu particularizar a variação litológica e a
mineralização sulfetada. A presença de sulfetos nas rochas máficas e ultramáficas é
identificada sob duas formas: minério com textura primária reliquiar obliterada e com
textura fortemente remobilizada e com influência hidrotermal. Uma amostra de tonalito
representativa do embasamento, Complexo Anta, e uma de granodiorito proveniente do
furo estudado em detalhe foram selecionadas para datação geocronológica (U-Pb em
zircão por LAM-MC-ICP-MS). O tonalito do embasamento forneceu uma idade de
intercepto superior de 3336 ± 22 Ma para núcleos herdados, uma idade de cristalização de
intercepto superior de 2924 ± 29 Ma e rejuvenescimento apontando o Brasiliano, idades
compatíveis com o reportado para o Complexo Anta, embora um pouco mais antiga e
sugestiva de um evento mais longo ou mais complexo. Por outro lado, o granodiorito
forneceu núcleos herdados com idade de intercepto superior de 2814 ± 19 Ma e bordas
porosas de aspecto esponjoso com características hidrotermais para formação com idades
fortemente sugestivas de cristalização durante o Ciclo Brasiliano. Estes granitos foram
considerados muito relevantes por estarem associados a zona de bonança do minério de
níquel e imprimirem forte alteração hidrotermal às encaixantes de minério. As intrusões
graníticas parecem estar relacionadas com as estruturas que condicionam o minério
remobilizado e definem a geometria das mineralizações de níquel de Boa Vista. A partir
dos dados gerados e integrados sugere-se que a exploração mineral não se limite ao uso
de modelos clássicos, mas que leve em consideração aspectos locais típicos de
alojamento dos corpos de minério. Ainda, recomenda-se uma malha de sondagem regular
direcionada ao plunge, dip e strike dos corpos de níquel e para as estruturas como dobras,
falhas e descontinuidades. Similaridades de posicionamento final dos minérios de ouro da
região e o de níquel parece indicar para um estágio de remobilização comum,
possivelmente relacionado ao Ciclo Brasiliano. Neste contexto, investigações futuras e
sistemáticas das injeções graníticas encontradas em Boa Vista podem ser essenciais para
uma melhor avaliação da área do ponto de vista prospectivo.