O presente estudo teve como objetivo fomentar o debate, em grupo, dos trabalhadores acidentados e adoecidos que encontram-se na Reabilitação Profissional da Previdência Social, no que se refere aos aspectos sobre a organização do trabalho, o gênero masculino e a saúde dos trabalhadores, possibilitando assim adequado enfrentamento de sua limitada condição no trabalho e reconhecimento de seus direitos e potencialidades transformadoras, tendo em vista não haver esse espaço atualmente no INSS. A pesquisa teve como hipótese que o homem ao compreender que o processo saúde-doença sofre interferências da relação capital x trabalho, e nesse contexto, o papel culturalmente atribuído ao masculino, permitiu-se refletir sobre os direitos adquiridos visando exercitar o papel de cidadão e descobrir potencialidades para uma melhor vida no trabalho e fora dele e, se é possível, efetivamente exercitar a reabilitação profissional. Para tanto, o método teve como base a pesquisa qualitativa, pesquisa intervenção, com o recurso de oficinas. Ocorreram dois grupos, sendo totalizado a participação de 23 trabalhadores do sexo masculino, sendo um grupo com 11 participantes e outro com 12 participantes, com idades de 35 a 46 anos, que passaram em atendimento no Serviço de Reabilitação Profissional do INSS – Agência da Previdência Social de Guarulhos, no período de agosto/2013 a janeiro/2014. As oficinas ocorreram no Centro de Referência de Saúde do Trabalhador – Guarulhos, com duração de duas horas e total de seis encontros por grupo. Na análise optou-se pelo método do discurso do sujeito coletivo. Os dados coletados apresentam resultados apontando que os trabalhadores reconhecem que o trabalho e o trabalhar são vitais ao homem, estabelecendo com ele uma relação de identidade, dignidade, e quando não se veem mais nesse processo há um sentimento de inutilidade, perde-se o sentido da vida. O trabalho é reconhecido pelo homem como condição de sua existência, porém, devido às mudanças ocorridas no mundo do trabalho pelo interesse do capital, o trabalhador não se reconhece no trabalho para além da relação de troca, e, portanto, se aliena no mundo do trabalho, que cada vez mais intensifica as formas de exploração da classe trabalhadora. Apresentam a realidade da organização atual do trabalho que se caracteriza como precarizada, opressora, além de haver a superexploração do trabalhador que, às vezes, se submete a determinadas atitudes tanto por medo do desemprego como pela demasiada concorrência no mercado de trabalho, que coloca o trabalhador em uma realidade competitiva tanto no ambiente de trabalho como na busca por recolocação. Reconhecem que as condições de trabalho, bem como, as exigências atuais do mercado de trabalho, podem influenciar no adoecimento ou acidente de trabalho, e assim consequentemente, ocorrer o afastamento. Os trabalhadores reconhecem que trabalhar traz prazer, satisfação, crescimento pessoal, que levarão para toda vida. Mas apresentam “marcas” negativas que também levarão para uma vida inteira, pois geram sofrimento, culpabilização, além da dor emocional relacionada ao julgamento social decorrente do afastamento, e pelo sentimento de abandono em relação às empresas quando ocorre o afastamento do trabalho. O estudo também aponta a insegurança em relação à continuidade ou não do benefício, e, como o homem trabalhador se sente humilhado por não mais suprir as necessidades da família devido o baixo valor do benefício. Avaliaram o processo de estudo que participaram como positivo, e que o grupo possibilitou um espaço de vivência, de troca de experiência e de escuta. O presente estudo ainda possibilitou a abertura de um debate na equipe de Reabilitação Profissional para a construção de ações em grupo, e da importância de ações intersetoriais, bem como o processo de educação e educação em saúde junto aos trabalhadores afastados em decorrência de acidente ou doença relacionada ao trabalho.