A espécie T.angustula tiraria vantagens particularmente do habitat de
borda onde consegue acesso a uma parcela maior de recursos críticos (locais
de nidificação e fontes florais), de modo que este “species sorting” (e.g.
SZÉKELY & LANGENHEDER 2013; AI et al. 2013) eleva sua abundância na
paisagem e na metacoumunidade de meliponíneos, na escala do mosaico
floresta-silvicultura.
Na escala do mosaico, o “efeito de massa” de T. angustula se expressaria
de modo unimodal, com máxima intensidade na borda da floresta. À medida que
adentra a floresta madura, a permanência desta espécie na comunidade local
passa a depender cada vez mais de estocasticidade demográfica ou “deriva
ecológica”, pois tende à condição rara, enquanto as espécies com alta fidelidade
à floresta mantem densidades estáveis (p.ex., SILVA et al. 2013) e preservam
suas maiores taxas de longevidade colonial. Nas comunidades de Meliponini da
floresta, SILVA et al. (2013) argumentaram que o regime de regulação da
distribuição de abundâncias de espécies se manteria similar entre as florestas
em estágio inicial e avançado de regeneração, com atuação precoce e constante
de mecanismos de controle de acesso aos locais de nidificação por espécies
mais agressivas, como Scaptotrigona. Por outro lado, argumentamos que o
regime regulador da metacomunidade sob efeito de massa de T. angustula tende
a mudar de altas taxas reprodutivas (e longevidades relativamente baixas) na
borda, para altas taxas de sobrevivência colonial (alta longevidade e baixa taxa
reprodutiva) nas áreas nucleares da floresta. Ao contrário das conclusões
teóricas de AI et al (2013) sobre o papel da média e da variância na dispersão
das espécies sobre a homogeneização da metacomunidade, no caso de
Meliponini a homogeneização na escala do mosaico de habitats aumentaria com
aumento do efeito de massa e perda gradual de espécies nos habitats de
florestas. Este processo tende a se intensificar com aumento da fragmentação e
expansão de silviculturas, dada a forte assimetria na dispersão de espécies com
alta fidelidade à floresta em direção aos demais habitats do mosaico.
A utilização de ninhos armadilhas para estudos com Meliponini tem sido
ampla para estimativas de riqueza, tamanho de populações, em analises de
ciclos de vida, comportamento sazonal e preferencias de substratos. Entretanto
poucos estudos têm analisado padrões espaciais e dinâmicas populacionais.
Porém estes devem ser acompanhados de informações acerca da mortalidade
ou longevidade de ninhos naturais, de distúrbios antrópicos (como o manejo, por
exemplo, e de informações acerca de variáveis ambientais para um melhor
entendimento dos padrões de frequência (FRANKIE et al, 2002). O presente
trabalho traz a possibilidade de utilizar a espécie T.angustula como modelo
biológico para acessar informações sobre processos ecológicos que
influenciariam a estruturação das comunidades de Meliponini.
A Tetragonisca angustula é uma espécie de Meliponini de ampla
distribuição na América Tropical (OLIVEIRA et al, 2004), são generalistas nas
relações florais (MORGADO et al, 2011; NOVAIS et al, 2013) e nas espécies de
árvores cujos ocos utilizados para nidificação (BATISTA et al, 2003; SILVA et al,
2014) possuindo grande plasticidade na ocupação de cavidades para tal,
habitando com sucesso ambiente antropizados e urbanos (SOUZA et al, 1993;
PRONI, 2000; SOUSA et al, 2002; BATISTA, 2003; SOUZA et al, 2006; AIDAR
et al, 2013; VIEIRA, 2015). As colônias de T. angustula possuem intensa
reprodução e altas taxas de mortalidade de suas colônias, com grande diferença
de resposta entre ambientes desmatados, com maior sobrevivência, longevidade
e abundância, e ambientes florestados, com significativo decréscimo nestes
atributos (BATISTA et al, 2003; SLAA, 2006; SILVA et al, 2013). Deste modo,
alguns estudos indicaram esta espécie como potencial modelo para analisar
possíveis efeitos de massa de ambiente antropizados em direção a fragmentos
florestados (BATISTA et al, 2003; SILVA et al, 2013). De fato, associado a dados
de abundância de ninhos naturais de habitats florestado em diferentes estágios
de regeneração (SILVA et al, 2013) encontramos dados que sustentam a
hipótese de efeito de massa indicando que o modelo se mostrou adequado para
abordar a questão. Não obstante, mais informações sobre a longevidade de
ninhos capturados pelos ninhos armadilhas comparados com a longevidade nos
ninhos naturais pode trazer uma maior precisão, em estudos de longo prazo,
para analisar possíveis efeitos de massa desta esta espécie. A taxa de ocupação
de armadilhas permite analisar dinâmicas populacionais e padrões espécies,
permitindo associado s dados adicionais de ninhos naturais, analisar efeitos
ecológicos, como o efeito de massa, mas é limitada para acessar a taxas de
enxameamento por unidade de tempo. Informações sobre essas taxas em outras
espécies além da T. angustula podem ser importantes para uma compreensão
mais profunda das dinâmicas reprodutivas e de dispersão, e para isso
recomenda-se utilizar a taxa de armadilhas ocupadas que estivera anteriormente
vazia, como em SLAA (2006), em detrimento a apenas a taxa de ocupação de
armadilhas. A periodicidade bimensal no monitoramento pareceu suficiente
considerando a dinâmica de enxameamento da espécie com dependência do
ninho-mãe que pode varia de 36 dias a 6 meses (VEEN & SOMMEIJER, 2000),
entretanto considerando que a maioria das espécies de Meliponini tem baixa taxa
de reprodução de suas colônias, talvez em muitos casos menos de uma vez por
ano (SLAA, 2006; CHINH, 2004) o período de um ano deve ser insuficiente para
analisar variações temporais.
O efeito de manejo deve ser controlado para obter informações mais
precisas acerca do efeito de massa da matriz para fragmentos florestados por
esta espécie, apesar de o modelo misto linear generalizado permitir ajustar essas
variâncias de modo que ainda assim seja detectado o efeito. Há evidencia de
que o efeito do manejo pode influenciar nas abundancias e riquezas de
Meliponini (Brosi et al, 2007) de modo que essa informação adicional deve ser
considerada (Frankie et al, 2002).
A T. angustula em grande importância econômica e cultural, sendo uma
das espécies mais cultivadas na meliponicultura, embora principalmente numa
escala de produção local (Slaa et al, 2006), e um polinizador conhecido de
diversos cultivos agrícolas (MALAGODI, 2002; IMPERATRIZ-FONSECA et al,
2006; ANTUNES et al, 2007; KLEINERT et al, 2009; SLAA et al, 2006;
CORTOPASI-LAURINO et al, 2006). De fato, único protocolo de uso de
meliponini para polinização de cultivos existente, é o uso de T. angustula na
produção de morangos (CORTOPASI-LAURINO et al, 2006), contudo o
potencial de usos dessa espécie não só para polinização de cultivares em áreas
em que a mesma é nativa, mas também em locais fora da sua ocorrência tem
sido considerado (NOGUEIRA-NETO, 1997). Contudo, com as possíveis
consequências ecológicas tanto a modificação da paisagem quanto a introdução
artificial desta espécie para meliponicultura ou polinização de cultivares, de
modo a favorecer a sua dispersão a ponto de exercer forte pressão de
propágulos através de um possível efeito de massa, deve ser visto com cautela.
É preciso considerar possíveis efeitos deletérios na estruturação das
comunidades de meliponini em função do efeito de massa da T. angustula da
matriz antropizada para fragmentos florestados.