O desmatamento da Amazônia tem causado perdas irreparáveis à biodiversidade. O caminho mais viável para combater esse problema é a conservação da floresta em pé, por meio do seu uso. Nesse contexto, o manejo de produtos florestais não madeireiros torna-se uma atividade essencial, para promover o uso sustentável de produtos como o óleo de andiroba, com reconhecida ação fitoterápica e fitocosmética. Esse óleo fixo, proveniente das sementes de andiroba, há séculos é extraído de maneira tradicional pelos amazônidas. No entanto, essa extração é demorada e não atende aos padrões exigidos pelo mercado industrial. Por outro lado, a extração por prensagem permite maior padronização e controle, com resultados mais reprodutíveis, facilitando a obtenção de produtos e novas aplicações. A nanotecnologia tem sido considerada uma área emergente para o desenvolvimento de produtos inovadores de alto valor agregado, inclusive no desenvolvimento de medicamentos, cosméticos e produtos para combater vetores de doenças. Dentre os diversos tipos de nanoformulações que podem ser preparadas, destacam-se as nanoemulsões do tipo óleo em água. Elas são sistemas dispersos de gotículas de óleo com diâmetro médio em escala manométrica, distribuídas em uma fase aquosa contínua. Dentre as diversas vantagens das nanoemulsões do tipo óleo em água, destaca-se a possibilidade de solubilização de substâncias hidrofóbicas em água, estabilidade física e química e também a possibilidade de liberação controlada das substâncias bioativas. Apesar do elevado potencial biológico do óleo de andiroba, poucos trabalhos na literatura focam no desenvolvimento de nanoemulsões a base desse produto amazônico. Assim, o objetivo desse trabalho foi obter uma nanoemulsão do tipo óleo em água, utilizando-se uma metodologia de baixa energia e sem o uso de solventes orgânicos, além de verificar se as substâncias bioativas eram liberadas gradualmente, utilizando um ensaio larvicida clássico e simples. A caracterização fitoquímica por cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrometria de massas revelou que o óleo de andiroba extraído por prensagem apresenta os ácidos oleico e palmítico como ácidos graxos majoritários, além do fitosterol β-sitosterol e limonóides, que são considerados constituintes fitoquímicos característicos da espécie. A determinação do equilíbrio hidrófilo-lipófilo do óleo de andiroba sugeriu um valor perto de 11,0 e permitiu a escolha do tensoativo polisorbato 85 para obtenção da nanoemulsão otimizada. O baixo tamanho de gotícula, em torno de 150 nm e baixo índice de polidispersão (< 0,200), aliado ao fato de que não houve aumento significativo desses parâmetros após estresse térmico, sugere a estabilidade do nanosistema. O ensaio larvicida residual frente a Aedes aegypti, sugeriu uma liberação gradual, por meio da verificação de incremento da mortalidade em função do tempo. Dessa maneira, conclui-se que é possível desenvolver uma nanoemulsão com boa estabilidade e de baixo custo, utilizando-se óleo de andiroba, tensoativo não-iônico e água, capaz de liberar gradualmente as substâncias bioativas, com elevado potencial para uso em diferentes segmentos.