A doença de Chagas é uma antropozoonose causada por um protozoário flagelado, Tripanosoma cruzi (T. cruzi), cujo ciclo enzóotico ocorre entre mamíferos e triatomíneos silvestres, sendo a Amazônia brasileira endêmica para esta doença. O nordeste Paraense é uma das áreas onde se concentram os maiores índices de desmatamento com consequente redução da população de animais silvestres que servem para o repasto sanguíneo dos triatomíneos, e por esse motivo, aproximam-se das habitações humanas para conseguir alimento. O presente trabalho tem como objetivo compreender a dinânima da infecção por T. cruzi em animais domésticos, silvestres e seus vetores no município de Castanhal-PA, considerando os aspectos da paisagem. Amostras sanguíneas foram coletadas de cães, gatos, marsupiais (Didelphis marsupialis) e um pequeno roedor (Rattus rattus) oriundos de quatro áreas no município de Castanhal. A necropsia, análise histopatológica e Imunohistoquímica de dois cães com histórico de morte súbita foi realizada no Laboratório de Patologia Animal-UFPA durante o período de estudo. O primeiro cão necropsiado apresentou ninhos na forma amastigota de T. cruzi na histopatologia e marcação positiva na imunohistoquímica. O segundo cão necropsiado não apresentou lesões histológicas e nem marcação na imunohistoquímica. Mas ambos apresentaram DNA de T.cruzi pela técnica de Nested-PCR no tecido cardíaco com os iniciadores específicos TCZ1, TCZ2, TCZ3 e TCZ4. Foram escolhidas quatro áreas para coleta de sangue de cães e gatos, captura de pequenos mamíferos e triatomíneos. A Nested-PCR, foi realizada em todas as amostras sanguíneas dos animais e no trato digestivo de triatomíneos. Na área 1, foram analisados um total de 25 animais domésticos (24 cães e um gato), dois marsupais, e dois triatomíneos (Rhodnius pictipes). Na área 2, foram analisados 11 cães e dois marsupais. Na área 3, foram analisados 74 animais domésticos (71 cães e três gatos), três triatomíneos (R. pictipes) e um marsupial. Na área 4, foram analisados dois cães e quatro marsupais. Na área 1, DNA de T. cruzi foi detectado pela Nested-PCR em 50% (12/24) dos cães e sendo o único gato também positivo (1/1), em 50 % da amostra dos marsupiais (1/2) e 100% dos triatomíneos (2/2) capturados. Na área 2, não foi detectado DNA de T.cruzi nos cães analisados e nem nos marsupiais capturados. Na área 3, foi identificado em 42,25% (30/71) dos cães e 66%(2/3) dos gatos, em 100% dos triatomíneos (3/3) e no único marsupial capturado (1/1). Na área 4, não foi identificado nos dois cães analisados (0/2), porém, um marsupial teve resultado positivo pela técnica Nested-PCR (1/4). Os dados encontrados revelam a importância da pesquisa em cães e gatos da Doença de Chagas em regiões como a Amazônia, que possui ecótopos contendo os reservatórios e vetores, além de animais domésticos capazes de participar do ciclo do T. cruzi. A proximidade do homem destes locais, alterando esses ambientes de fragmento florestais, pode estar contribuindo para o aumento do risco de transmissão da doença.