A perda da diversidade biológica vem aumentando consideravelmente no bioma
Cerrado, sendo causada pela destruição de hábitats ocasionados pelo crescimento das
cidades, fronteiras agrícolas, aumento da população humana, extração de madeira, abertura de
estradas e distúrbios como fogo, caça, pecuária e, sobretudo, atropelamentos de animais
silvestres em rodovias. Com essa intensa perda de material genético, fez-se necessário a
criação de um banco de germoplasma para se evitar a extinção de espécies ameaçadas. O
objetivo deste trabalho foi primeiramente avaliar a possibilidade de recuperar, isolar e
caracterizar fibroblastos de três espécies diferentes (lobo-guará, veado-catingueiro e cachorrodo-
mato), assim como testar o efeito dos crioprotetores DMSO 10% e DMF 5% associados a
uma curva de resfriamento lenta e não controlada, sobre a viabilidade celular destes animais.
Em seguida, utilizando o meio de criopreservação mais eficiente identificado previamente,
formar um banco de germoplasma contendo fibroblastos de diferentes espécies silvestres do
bioma Cerrado, aproveitando o material genético que seria perdido com a morte do animal. Os
animais foram provenientes de atropelamento nas rodovias, encontrados mortos no meio
ambiente ou do Hospital Veterinário do Jardim Zoológico de Brasília. Foram retirados
fragmentos de pele da orelha dos animais mortos. Em seguida foram tricotomizados e
fragmentados em pedaços de 2 mm2. As amostras foram colocadas em placas de petri,
preenchidas com 3 mL de meio DMEM, suplementado com 10% de SFB e antibiótico e, em
seguida levadas à estufa de CO2 a 38,5 ºC e 5% de CO2. Os fragmentos foram retirados após
10 dias após a troca do meio. No sétimo dia após a troca do meio, as células foram suspensas
em tripsina-EDTA e transferidas para garrafas de cultivo até atingirem a confluência. Após
atingirem a terceira passagem, uma parte das células foi diluída em solução de
criopreservação com 10% de DMSO, e a outra parte foi diluída em solução com 5% de DMF.
As células foram envasadas em palhetas de 0,25 mL e armazenadas por 24 horas a -80ºC e,
logo após esse tempo, armazenadas em nitrogênio líquido. As células pós-congelamento foram
coradas com Trypan blue 4% para análise de viabilidade. Os fibroblastos dos exemplares de
lobo-guará apresentaram um atraso no crescimento celular em meio DMEM em relação a
outras espécies, sendo um fator limitante para seu armazenamento futuro. Diferenças na
morfologia celular foram observadas entre os fibroblastos de lobo-guará, veado-catingueiro e
cachorro-do-mato, que apresentaram formato ramificado, fusiforme e esférico,
respectivamente. A solução de crioproteção contendo 10% de DMSO foi mais eficiente que o
meio com DMF 5%, para conservar a viabilidade dos fibroblastos das três espécies (P<0,05).
Um banco de germoplasma foi formado com 508 amostras criopreservadas com fibroblastos de
19 animais, provenientes de 11 espécies diferentes. Dentro destas espécies, quatro são
classificadas em escala de risco de extinção como menos preocupantes (cachorro-do-mato,
veado-catingueiro, furão e macaco-da-noite), seis espécies como vulneráveis (lobo-guará,
onça-pintada-preta, onça-pintada, gato-maracajá e gato-palheiro), uma em perigo de extinção
(mico-leão-preto) e uma criticamente em perigo (cairara). Este reservatório biológico se
configura no primeiro banco de germoplasma contendo células somáticas de mamíferos
silvestres mortos do bioma Cerrado do Brasil. Este material está alocado no Jardim Zoológico
de Brasília e servirá para estudos futuros de caracterização das espécies e multiplicação de
animais por meio da clonagem por transferência nuclear.