Diante da variabilidade existente entre os diversos isolados de Neospora caninum já obtidos
pelo mundo, e da escassa informação da neosporose em modelo murino Wistar, este trabalho
teve por objetivo realizar a avaliação da resposta imunológica provocada pela infecção
experimental de três isolados do parasito: Nc Goiás, Nc-1 e Nc-Liverpool em ratas da
linhagem Wistar prenhes e não prenhes, além da ocorrência de abortamentos nos grupos
prenhes. Objetivou-se ainda caracterizar, nas fêmeas prenhes, o comportamento do isolado
goiano sob aspectos clínicos, histopatológicos e presença do parasito nos tecidos materno e
fetal, comparando aos padrões de comportamento obtidos pela inoculação dos demais
isolados. Após o estabelecimento da infecção com 106 taquizoítos de cada isolado em seu
respectivo grupo, por via intraperitoneal, a evolução clínica dos animais foi verificada.
Grupos controles, inoculados com solução salina estéril, foram incluídos. Eutanásias foram
realizadas nos dias 4, 8, 16, 32 e 64 p.i. nos grupos não prenhes e 4, 8, 16 e 22 p.i. (dia do
parto), nos grupos prenhes. Foi coletado sangue total para obtenção de soro, no qual foram
realizadas dosagens de imunoglobulinas específicas IgM, IgG1 e IgG2a, citocinas pró-
inflamatórias IFN-γ, IL-1, IL-6, IL-18 e TNF-α e imunomodulatórias IL-4 IL-10. Amostras de
cérebro, coração, fígado e útero gravídico ou filhotes no último dia foram colhidas, onde parte
do material passou por processamento histológico e outra fração foi destinada à extração de
DNA, para posterior realização de nested-PCR. Não foram verificadas diferenças (p>0,05) na
produção de anticorpos específicos entre os grupos. Maiores produções (p<0,05) de IgG1 e
IgG2a foram observadas na fase crônica dos grupos não prenhes, com picos de produção nos
dias 32 e 64 p.i. As citocinas pró-inflamatórias apresentaram maiores níveis nas fases iniciais
da infecção, sendo superiores (p<0,05) na fase aguda dos grupos não prenhes. O grupo não
prenhe infectado com Nc-Liverpool produziu maior nível de IFN-γ (p<0,05). As maiores
concentrações de IL-4 e IL-10 foram verificadas nos dias 16 e 22 p.i. nos grupos prenhes
(p<0,05). A produção de citocinas se comportou de maneira semelhante entre os grupos
infectados, demonstrando ausência de diferenças entre os três isolados. A taxa de
abortamentos verificada foi 5,0% em GP1 (Nc1), 4,29% em GP2 (Nc-Goiás), 6,3% em GP3
(Nc-Liverpool), e 0,0% em GPC (controle), apresentando diferença significativa entre grupos
infectados e GPC (p<0,05), mas não entre os infectados (p>0,05). O maior número de
abortamentos ocorreu no dia 16 p.i. Sinais compatíveis com um quadro clínico de neosporose
não foram verificados em nenhum dos animais do experimento. Tampouco foram observadas,
à necropsia, alterações macroscópicas nos órgãos maternos. Morte de crias após o nascimento
também não ocorreram, e as ninhadas apresentaram-se clinicamente sem alterações. O
número médio de crias por fêmea foi 5,3 no grupo Nc-1, 6,7 no grupo Nc-Goiás, 5,2 no grupo
Nc-Liverpool e 10,7 no grupo controle, sem diferença entre os grupos infectados (p>0,05),
apenas entre infectados e controle (p<0,05). A predominância de detecção do DNA alvo foi
em tecidos de coração e fígado maternos. DNA do parasito foi detectado com maior
frequência no cérebro das fêmeas inoculadas com Nc-Goiás, com animais positivos a partir do
dia 16 p.i., em comparação aos demais isolados. O DNA parasitário foi detectado nos tecidos
fetais já a partir do dia 4 p.i. no isolado Nc-Liverpool, a partir do dia 8 p.i. no grupo Nc-1 e
somente a partir do dia 16 p.i. no grupo Nc-Goiás. Quatorze porcento dos tecidos maternos
avaliados apresentaram lesões como infiltrado inflamatório mononuclear multifocal. A lesão
verificada no cérebro foi gliose focal ou multifocal discreta. Não foi encontrado cisto tecidual.
O isolado goiano Nc-Goiás, embora seja classificado como de moderada patogenicidade, não
apresentou diferenças significativas nos perfis de imunoglobulinas e citocinas estudadas,
tampouco em ocorrência de abortamentos, apresentando curso da infecção e implicações
semelhantes em comparação a isolados tidos como de maior patogenicidade (Nc-1 e NcLiverpool).