Nesta pesquisa, analisamos a relação entre o componente curricular
Educação Física e alguns programas socioeducativos do Governo
Federal voltados às escolas públicas brasileiras, especificamente o
Programa Mais Educação (PME), Programa Segundo Tempo (PST),
Programa Atleta na Escola (PAE) e Programa Saúde na Escola (PSE),
verificando suas consequências e implicações no contexto escolar. O
estudo corresponde ao período entre os anos de 2014 e 2015, nos quais
analisamos a realização dos programas socioeducativos nas escolas,
ainda que estes programas tenham sido criados e implementados ao
longo dos governos Lula e Dilma (2003-2015). Para delimitar o campo
empírico, foram selecionadas três escolas públicas estaduais
pertencentes aos territórios do Maciço do Morro da Cruz, em
Florianópolis, Santa Catarina, que recebem crianças e jovens de baixa
renda e possuem Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB) baixo, portanto, escolas alvo desses programas. Considerando
que esses programas socioeducativos propõem oficinas de práticas
corporais e esportivas, interrogamos como elas são oferecidas, qual a
perspectiva de abordagem dessas atividades corporais e de que forma
interagem com os tempos, espaços, conteúdos, métodos, objetivos e
conhecimentos da Educação Física. Para tanto, realizamos um balanço
da produção acadêmica sobre o tema e entrevistas semiestruturadas com
diretores, professores de Educação Física e coordenadores dos
programas. A sistematização dos dados nos levou a organizar três eixos
de análise: a apropriação e esvaziamento dos conteúdos da Educação
Física; a precarização das condições materiais das escolas, com
responsabilização do professor; e a ampliação do escopo de ação da
escola pública articulada à mudança de sua finalidade e especificidade.
Concluímos que a implantação dos programas PME, PST, PAE e PSE
na escola impactam negativamente sobre o componente curricular
Educação Física, uma vez que reduzem seu objeto de ensino a mera
atividade física responsável pela descoberta de talentos esportivos, pela
identificação de problemas relacionados à saúde e pela ocupação do
tempo das crianças por meio de atividades recreativas. Mas os
programas ainda criam problemas e desafios para a escola em geral, haja
vista que intensificam e precarizam ainda mais o trabalho do professor,
concorrem por espaços e instalações insuficientes e sucateadas,
diversificam os profissionais que atuam na escola, admitindo sujeitos
sem habilitação para o trabalho pedagógico. Isso tudo tem colaborado
para ampliar as ações e responsabilidades da escola, uma vez que sua
tarefa específica de viabilizar a apropriação do conhecimento elaborado
e possibilitar o acesso à cultura é desviada e esvaziada. Assim, a
finalidade da escola se vê comprometida, como instituição educativa e
direito social, à medida que secundariza o trabalho pedagógico
envolvendo os conteúdos curriculares para se tornar uma agência
prestadora de serviços e de assistência social.