O presente trabalho tem por escopo examinar como a política criminal de drogas brasileira foi influenciada especificamente pelo crack, bem como as consequências que se anunciam desta relação, sobretudo no tocante a indivíduos hipossuficientes. Sob um prisma realista marginal, a dissertação identifica as políticas criminais no plano executivo e legislativo adotadas para o enfrentamento do tema através do histórico do crack no Brasil, além de explorar as semelhanças com a situação análoga ocorrida nos EUA, no final da década de 1980. Ao final do trabalho são apresentadas algumas propostas tendentes à redução da violência de nosso sistema penal. Viciante e barato, o crack, cocaína dos pobres, adequou-se plenamente à realidade da população vulnerável brasileira, que, em pleno século XXI, ainda sofre com a desigualdade social – e todas as mazelas desta decorrentes – enraizada no país. Aqui, indivíduos em precárias condições de vida passaram a utilizar uma substância que, ao mesmo tempo em que serve de escape para o sofrido cotidiano, provoca sérios danos à saúde, agravando ainda mais o quadro de exclusão. Diante desse quadro, criou-se o pânico moral em torno da questão, especialmente provocado pela mídia, que passou a retratar o usuário de crack como absolutamente incapaz de agir racionalmente diante de uma droga supostamente demoníaca, a qual conduziria a um vício inevitável, à violência e à promiscuidade, não permitindo qualquer possibilidade de salvação àquele que a use. A figura do “crackeiro” influenciou a política criminal de drogas brasileira, materializada através de estratégias extremamente díspares para o enfrentamento do problema, vale dizer, desde a repressão pura até a oferta de oportunidades de emprego aos usuários, sem se olvidar do recrudescimento punitivo em relação ao traficante. Muitas dessas medidas, além de fundadas no senso comum e pouco eficazes, revelaram-se vinculadas a pretensões eleitorais, tal como ocorrido no caso estadunidense.