A inserção de fatores de transcrição conhecidos em células somáticas é capaz de
reprograma-las levando a um estágio de pluripotência, gerando células-tronco
pluripotentes induzidas (iPS). A utilização destas células na medicina regenerativa
tem grande potencial tanto na medicina humana quanto na veterinária, e a influência
da origem da célula somática utilizada na geração de iPS é discutida atualmente.
Mamíferos domésticos, como por exemplo o equino, são bons modelos para o
estudo para medicina humana e veterinária, com destaque para terapia celular
utilizando células mesenquimais em lesões ortopédicas e articulares. Tendo como
hipótese que células equinas com diferentes origens apresentam potenciais de
indução à pluripotência e capacidade de diferenciação in vitro variáveis; esta
proposta tem como objetivo gerar células iPS equinas obtidas através da transdução
viral dos fatores de transcrição OSKM humanos ou murinos em fibroblastos (eFibro)
adultos e células mesenquimais derivadas de tecido adiposo (eAdMSC), medula
óssea (eMO) e tecido de cordão umbilical (etCU). Foram isoladas e cultivadas 4
linhagens de células do tecido de cordão umbilical, 3 linhagens de fibroblastos
equinos, 3 linhagens de células mesenquimais de tecido adiposo equinas e 2
linhagens de células de medula óssea equina. Essas células tiveram seu tempo de
duplicação celular calculado em horas (eMO 61,3±15; etCU 53,8±5; eFIBRO 27±2;
eAdMSC 18,2±4,5) e foram caracterizadas por diferenciação condrogênica,
osteogênica e audiogênica e por imunofenotipagem. A partir destas células foram
produzidas 85 linhagens iPS equinas (eiPS- 30 linhagens derivadas de fibroblasto,
33 linhagens derivadas de células de tecido adiposo, 21 linhagens derivadas de
células de tecido de cordão umbilical com os fatores humanos e 1 linhagem de
derivada de células de tecido adiposo com os fatores murinos). Testes de detecção
de fosfatase alcalina e OCT4 foram realizados para células eiPS obtidas de cada
linhagem e as células eiPS derivadas de tecido adiposo e fibroblastos foram
positivas para detecção de NANOG, TRA1-60, TRA1-81 e as células eiPS derivadas
de eAdMSC foram positivas para detecção de SSEA-1. As células eiPS derivadas de
cada tipo celular geraram corpos embrióides, que posteriormente foram dissociados
para teste de diferenciação espontânea in vitro. Os resultados mostram que células
equinas podem ser mais facilmente reprogramadas com fatores humanos quando
comparadas com os fatores murinos (P<0.05). Enquanto os fatores murinos
produziram apenas uma linhagem de células iPS derivada de eAdMSC, os fatores
de reprogramação humanos foram capazes de produzir variadas linhagens de
células iPS, sendo a formação de colônias mais eficiente para células derivadas de
eAdMSC (322, P<0.01) do que para células derivadas de eFibro (65) e etCU (58),
que não diferiram (P=0.95), e não foi possível produzir células eiPS a partir de eMO.
Usando o sistema de indução à pluripotência padronizado em nosso laboratório, a
utilização de fatores humanos na reprogramação direta gera uma maior eficiência na
produção de células iPS equinas quando comparados com fatores murinos. No
nosso conhecimento, este é o primeiro relato de células eiPS produzidas unicamente
dependentes de bFGF, sem necessidade de adição de LIF no meio de cultivo.